Os elementos da Crise
Segundo matéria do caderno de Economia do Estadão deste domingo, 24/04/2011, “A dívida de um punhado de países ricos aumentou em US$ 16 trilhões (mais que o PIB americano) desde 2007, e atinge hoje US$ 42 trilhões, ou 61% do PIB global, representando uma das principais ameaças à recuperação da economia mundial”.
Ora, estamos vivendo um novo momento da crise iniciada em Setembro de 2008, mais precisamente a apresentação da conta salgada do resgate dos bancos e corporações feitas pelos planos de Bush I e II, e os três ajustes de Obama nos Estados Unidos. Apenas Bush injetou no sistema bancário americano combalido cerca de 1,5 Trilhões de Dólares que foi reforçado por Obama ainda na transição e nos seguidos ajustes de 2009, 2010 e o último agora de 2011.
Na Europa, na Zona do Euro - França, Alemanha e Inglaterra – também participaram do “salvamento” do sistema bancário mundial, numa cota menor, mas não menos significativa, algo como 1 Trilhão de Euros. O Japão vem ano a ano num processo crescente de endividamento público, agravado com a crise de 2008, também pagou sua cota com 800 bilhões.
A dívida pública que havia fechado 2007 em 26 trilhões, algo próximo a 47% do PIB mundial explodiu em menos de 3 anos para 42 Trilhões, apenas neste trio: EUA/ EU e Japão. Chegando assim a 61% da produção de riqueza anual de todos os países do planeta.
Ainda segundo o estadão: “O problema americano é que, com a crise global de 2008 e 2009 - e os grandes déficits públicos que foram usados como alavanca para relançar a economia -, a dívida pública explodiu.
Segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta do governo americano saltou de 62% do PIB em 2007 para projetados 99,5% em 2011 (e deve chegar a 112% em 2016). “Hoje, a dívida está entre US$ 14 trilhões e US$ 15 trilhões.”
País | Divida Pública 2007 | Divida Pública 2011 | %PIB 2007 | %PIB 2011 |
EUA | 8,7 | 15,2 | 62 | 99,5 |
Zona do Euro | 8,2 | 11,3 | 66 | 87 |
Japão | 8,2 | 13,3 | 188 | 229 |
Fonte FMI
Economias falidas
O reflexo deste imenso endividamento é a degola das economias mais periféricas, como Grécia, Portugal, Irlanda e mais presente Espanha. Estes países que receberam grande inversão de capitais para se adequarem à zona do Euro, hoje estão totalmente insolventes, tecnicamente falidos, vivendo da esperança de aporte da Alemanha e do FMI.
As imensas subvenções européias ao sistema financeiro fez saltar o déficit publico de 3,3% em 2007 para 6% em 2009 e 2010, com cortes orçamentários para 2011 reduzir para 4,4%, sobrando assim pouco alento em salvar estes países que irremediavelmente sofrem todas as conseqüências do desastre econômico, apenas Espanha tem hoje 22,5% da população economicamente ativa desempregada. Portugal numa crise de governabilidade.
Esta realidade catastrófica é exposta neste momento de aparente calmaria, depois do colapso profundo de 2008 e 2009, 2010 ficou numa zona de baixa turbulência, pois o EUA provocou uma guerra cambial terrível despejando apenas ano passado 600 bilhões de dólares no mercado mundial sobrevalorizando moedas e tornando suas mercadorias competitivas.
Porém estas imensas dívidas pública, que provoca um déficit fiscal de 10% ano nos EUA, ameaça qualquer perspectiva, em curto prazo, de uma leve recuperação, o custo social é altíssimo, programas sociais, incentivos aos trabalhadores e desempregados são cortados e, paradoxalmente, produziu uma ampliação dos bilionários nos EUA nos últimos 3 anos. O resgate estatal se deu justamente para socorrer os mais ricos.
Estado de Bem estar Social dos Ricos
Ideologicamente chega a ser risível, todo o floreado do ultra liberalismo, teve sua morte na prática, não no discurso, no socorro do ESTADO aos ricos. Todos os anos de pregação contra o Estado, pelo seu fim, não resistiu à grande crise, todos os bancos que fizeram a maior ciranda financeira da história foi salvo com dinheiro público, com a possibilidade remota de um dia o Estado receber qualquer coisa de volta. Nem mesmo os famosos bônus milionários foram cortados nos pacotes de ajuda aos bancos e grandes empresas, daí se explicam o crescente número de bilionário na crise.
O próximo conflito interno americano será a eleição presidencial de 2010, Obama já se lançou, em algo inédito para padrão americano, um ano e meio antes do pleito. "O compromisso (entre os partidos) é a única alternativa ao suicídio econômico, portanto ele virá: a única pergunta é: depois de quanta deterioração?" - resume para o Estado o economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley.(Fonte: Estadão).
Logo no seu relançamento Obama prometeu cortar 4 trilhões da dívida em 4 anos e reduzir o déficit público para 3,5% até 2016, como bem definiu Clinton em 1994 na luta contra Bush Pai: “é a economia estúpido” que explica a vitória ou derrota de um candidato presidente, assim será mais uma vez com Obama.
Porém a bolsa de apostas das agências de riscos e especuladores é que este interregno da crise terá seu fim em 2013 com uma nova e mais profundo crise de ajuste global, reduzindo em muitos os ciclos de grandes crises: "Os investidores estão preocupados com 2013, não com hoje, e foi também sobre 2013 que a S&P falou - estamos a dois anos da crise, em outras palavras", nota Einchengreen.
Marx define a Crise como sendo a “Pletora do capital” a sua expansão, abundancia é que leva a crise não sua falta. A superprodução de bens e capitais é a característica principal do ápice da crise, uma leitura vulgar, pensa que o contrário que leva à crise capitalista. A injeção dos Bilhões do FED combinado com o estoque de títulos por China e Japão (dois trilhões de dólares) é o epicentro da próxima crise global que se avizinha.
BRICS – Um mundo Novo
Quase um mundo à parte é a realidade dos BRICS( Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), mesmo depois da sacudida provocada pela crise de 2008, este conjunto de países que na prática pôs abaixo o G7 em nome do G20, experimenta uma situação econômica distinta e torna-se cada dia mais um modelo de expansão e crescimento à despeito da crise.
A iniciativa deste conjunto de países de buscar modelos alternativos ao capitalismo central, tem se demonstrado correta, mesmo na maior crise econômica mundial desde 1929, o abalo provocado foi relativamente baixo. Aproveitando-se de uma dinâmica econômica diferente, apostando em suas economias locais, cada um a seu modo enfrentou/enfrenta bravamente a crise sem reflexos graves aos seus povos.
A China que lidera o crescimento mundial neste novo século combina sua imensa população que oferece mão de obra abundante e relativamente barata, com um alto nível educacional, rapidamente se tornou a segunda maior economia mundial, é a grande compradora e vendedora do comercio mundial, uma agressiva estratégia levou que as empresas chinesas passassem de mera manufatura à grande produtora de valor agregado, com a introdução moderna parque tecnológico. Este imenso mercado é também hoje o maior consumidor de commodities mundial.
Suas imensas reservas, que hoje gira em 3,03 trilhões de dólares, fez dela a maior credora americana, apenas de títulos americanos os chineses têm 1,3 trilhões, cerca de 10% da dívida dos EUA. O BC chinês pensa em formar um fundo de investimento que pode potencializar ainda mais a economia chinesa, abreviando longos anos para alcançar a hegemonia mundial.
Fato que a falta de democracia para uma imensa classe média que se forma na China será um entrave no futuro, regime ultra centralizado do PC e sua velha burocracia será cobrado muito em breve, apenas em 2010 houve 13 milhões de petições diretas sobre abusos e desrespeitos aos direitos, é uma face invisível desta nova geração que vai querer poder.
A Rússia que era vista apenas por seu potencial bélico e suas imensas reservas de petróleo, também cresceu a taxas significativas até 2008, foi o elemento dos BRICS mais atingindo pela crise, pois sua economia depende diretamente das exportações para Europa e EUA, baseadas em petróleo. Mas os acordos com a China em 2009/2010, num grande movimento de aproximação voltou a crescer e espantar a crise. Grande problema russo continua sendo a pouca estrutura democrática e poucos dirigentes capazes de liderar o país.
A Índia é o país que aproveitou muito sua população com domínio do Inglês e virou uma grande plataforma de serviços globais, empregos de suporte técnico de grandes empresas, com imensos call centers se estabeleceram lá trazendo empregos e crescimento. Além disto, indústrias de software têm na Índia hoje uma das maiores plataformas mundiais, produz valor e inteligência. Há um amplo crescimento interno que sustenta suas taxas de PIBs, mesmo na Crise.
Sobre Brasil, tentarei escrever esta dinâmica em artigo autônomo, mas apenas para constar em consonância com os BRICS, o Governo Lula sem dúvida impulsionou as principais iniciativas do combate a crise, tanto no âmbito interno, como no front externo. A rápida e dinâmica recuperação de sua economia é objeto de estudo e debates no mundo, sua população e dimensão continental que combina crescimento, distribuição de renda com uma democracia ampla é o elemento mais destacado nos BRICS. Claro que há atrasos cruciais na Educação, Saúde, Infraestrutura, mas o país experimenta um dos mais longos e duradouros período de prosperidade, mais de 30 milhões saíram da miséria em poucos mais de 6 anos, a nova classe média já responde por 53% do PIB. Todos estes fatores serão trabalhados posteriormente com mais acura.