sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Obama e suas guerras

Tenho pensado muito sobre Obama, quase um ano de sua esmagadora vitória, o que mudou, qual significado dele para os EUA e para o mundo. Formular algo sobre alguém tão distante e localizar este alguém no nosso imaginário é uma atitude complexa, mas tentarei enfrentar.

Um Link com Roosevelt

A primeira coisa quando lembro de Obama na presidência é de outro grande presidente americano,talvez o maior e mais singular deles, Franklin Delano Roosevelt. Herdeiro de uma catástrofe econômica de 29, assume a presidência em 32 vencendo a máquina partidária e com um programa de amplas reformas, rompe com o liberalismo predominante e implementa fundamentalmente um programa keynesiano clássico, de intervenção estatal pesada. O New Deal foi centrado nos seguintes itens centrais:
  • controle sobre bancos e instituições financeiras;
  • construção de obras de infra-estrutura para a geração de empregos e aumento do mercado consumidor;
  • concessão de subsídios e crédito agrícola a pequenos produtores familiares;
  • criação de Previdência Social, que estipulou um salário mínimo, além de garantias a idosos, desempregados e inválidos;
  • controle da corrupção no governo;
  • incentivo à criação de sindicatos para aumentar o poder de negociação dos trabalhadores e facilitar a defesa dos novos direitos instituídos.

Roosevelt, apesar de vir do seio da burguesia americana, seu Theodore havia sido Presidente em 1908, foi sempre taxado de comunista, esquerdista e enfrentou uma oposição terrível do início ao fim de seu mandato, tudo em sua vida era motivo de exploração nos jornais. Espertamente ele resolveu fazer comunicação direta com o povo através do rádio, falando em cadeia de rádio sem intermediário e assim rompeu o cerco que a mídia(jornais) tentaram lhe impor, para quem tiver curiosidade sobre esta época ler "Anos Dourados" (Gore Vidal), romance que localiza bem a luta política enfrentada.

Obama

Coincidência ou não mas o motor da chegada de Obama a Casa Branca foi o desastre Bush Jr, sem isto, ouso afirmar, jamais um negro, com família com vínculos ao islã, lá chegaria. Sua ascensão é algo extraordinário, inimaginável há 10 anos, quem de nós conseguiria vislumbrar algo tão luminar?

Assume a presidência naquela que é considerada a segunda maior grande depressão da história do capitalismo, o país mergulhado num atoleiro no Iraque e Afeganistão, com pouquíssimo espaço de manobra, uma herança mais do que MALDITA, sob desconfiança da elite reacionária, que aceitou a derrota na batalha, mas prolonga a guerra via mídia. Neste contexto dentro do próprio partido Democrata, Obama tem poucos aliados confiáveis, é obrigado a montar um ministério de composição com as alas conservadoras e ainda manter um presidente do FED comprometido ainda com o Neoliberalismo.

Estive nos EUA em janeiro de 2009 e fiquei impressionado com a crise que lá campeia, falência das famílias representadas nas placas de vendas por leilão de casas por hipoteca. Lojas e departamentos em que nós estrangeiros éramos tratados como "reis", poucos americanos comprando, ou quando compravam apenas o essencial. Várias empresas do setor automotivo indo à bancarrota, notícias de desemprego em massa.

Este fatores combinados, recessão violenta, desemprego, sensação de decadência duas guerras no front, uma mídia hostil, deixam pouco, ou quase nada, espaço de manobra para Obama se movimentar. Para nós que estamos de fora apontar o dedo de por que ele continua as guerras é fácil, por que não enfrenta os lobbies armamentitas, grupos poderosos,etc. Sua própria chanceler Hilary Clinton sabota-lhe  o trabalho, negociou com os golpistas hondurenhos, por exemplo, mas são as concessões inevitáveis de Governo novo no meio do caos. Aqui não quero justificar os erros de conduta de Obama, mas tentar explicar os fatos com isenção.

A grande aposta, talvez um pouco do que aqui Lula também fez no primeiro ano com o Fome Zero, ele tenta a reforma da Saúde, que é a maior fratura exposta da decadência do modo de vida americano, em particular dos mais pobres, e isto é GUERRA, pior do que as externas, enfrentamento que divide a sociedade americana, a mídia age como abutres tentando isolar Obama, massacrando-o em seus programas, muitos abertamente facistas.

O futuro

Continuo depositando esperança em Obama, a sua vitória, o seu significado especial, a quebra de paradigmas são coisas mais importante do que a gestão em si, claro que ele tem de fazer concessões aos conservadores, só em se sustentar no cargo já é um desafio. Espero que ele no segundo, terceiro ano possa se firmar e ter em suas mãos seu governo efetivamente, pois hoje elas estão atadas. A mudança de perspectiva das relações no mundo são melhores com ele, mesmo que pouco tenha feito, mas em si já são diferentes.

Penso que nós que temos compromisso com a mudança social, não nos tornemos algozes e coveiros de Obama, não precisamos compactuar com seus erros, mas também não nos misturarmos com as críticas grosseiras aqui vociferadas por Mirians, Merval, Sardenbeg e outros.

Sinto que é incompleto mas é até onde consigo chegar na reflexão, espero que quem leia possa livremente completar a idéia aqui expressa