quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

“Mãe”, a Minha Mãe na posse da Dilma


Máximo Gorki escreveu o romance Mãe em 1907, em que conta a estória de Peláguea Nilovna viúva e o jovem Pavel órfão, a trajetória do garoto que entra muito cedo para luta revolucionária  e por sua influência sua mãe acaba participando da luta. Bem, não me chamo Pavel, nem a minha se chama Peláguea, mas enfim, temos muitas coisas em comum.

Trajetória Estudantil



Aos 13 anos tive meus primeiros contatos com a luta da esquerda. Estudava num colégio em Fortaleza, o dono  um deputado do P-MDB, que era militante do PC do B(clandestino), então ele abrigava vários professores que tinham sido presos, torturados e alguns exilados durante a ditadura. Era um garoto crescido no interior, recém mudado para capital, muito curioso, meio nerd, minha maior diversão eram os livros, principalmente Monteiro Lobato e história. Lia os livros didáticos como se fossem romances. Aquele ambiente de reinicio do movimento estudantil, de liberdade, das faixas vermelhas, apesar de confuso me atraiu rápido.

Certo que em 1984 já na Escola Técnica Federal, já participava intensamente do Movimento Estudantil, não entrara em nenhuma corrente, era disputado pelos extremos PC do B e Alicerce (Convergência Socialista), resolvi por conta própria ler os clássicos marxistas, sem me filiar a ninguém

Em 1985 fizemos um amplo comitê de apoio a Maria Luiza Fontenelle,  a primeira prefeita do PT numa capital. Aquilo foi fantástico, me senti fazendo história. Nesta época, já com alguma base teórica me juntei ao CGB (Coletivo Gregório Bezerra) uma ruptura do antigo partidão, iniciada por Prestes, que optou por seguir Brizola. Estes pequenos grupos se mantiveram a margem do PT, dentro da CUT, no Movimento Estudantil, combatendo à esquerda.

Mãe



Aqui entra a importância da minha Mãe na minha militância, na infância ela me influenciou no gosto pela leitura, no incentivo em estudar, meu irmão mais velho seguia os passos do meu pai, adorava carros, caminhões e cedo foi trabalhar, enquanto optamos por estudar mais. Para desespero do meu pai virei de “esquerda” que para ele era sinônimo de agitador, comunista, vermelho, risos, acho que até de comedor de criancinhas, engraçado que hoje meu velho e eu damos risadas destas brigas homéricas, sem ressentimento algum.

Quando passei a me dedicar integralmente à causa, foi um rebu em casa, pai não aceitava, e a doce mãe, muitas vezes, secretamente, me ajudava com algum dinheiro para que sobrevivesse o dia todo fora (naquela época não existia dinheiro nas entidades estudantis, era dia com fome mesmo). Morava distante da Escola Técnica e tinha muitos compromissos no movimento, tornei-me o primeiro Presidente do Grêmio Livre pós-ditadura, aquilo era um assombro para aquela instituição, liberal, mas muito controlada, cheia de agentes do SNI.

Jamais esqueço quando assumi a presidência, aquela senhora chorando emocionada pelo meu feito. Várias vezes corri riscos de ser preso, ou sofrer violência policial em greves estudantis e de trabalhadores que nós apoiávamos, ela sempre rezando, pedindo para que me cuidasse.  Depois quando fui para UMES, derrotamos o PC do B, uma guerra, depois de greves estudantis gigantescas em Fortaleza que nós ajudamos a organizar.

Minha mãe passou a votar na esquerda muito por minha influência, todos os irmãos já votavam na esquerda, mas ela assumiu de forma mais forte, apaixonada, comemorando as vitórias de Lula, foi à posse dele em 2006, ficou emocionada quando esteve perto dele, mais ainda quando mandou presente para Marisa e esta lhe respondeu por carta.

Sofreu horrores nesta campanha da Dilma, me ligava aflita querendo saber como estavam às coisas, se tinha perigo, o que ela poderia fazer.  Assistia aos debates, ficava preocupada, vibrava com cada pesquisa, quase matou meu pai com a ansiedade dos dias finais, ele pedia que eu a acalmasse. Mas morreu de chorar com a dupla vitória: Dilma Presidente e Tasso fora do senado.

Minha mãe sairá do interior do Ceará, ela mora perto de Jericoacoara e vai para fortaleza, pegará vôo de madrugada, sozinha, para ir à posse de Dilma, lhe perguntei se valia a pena, deixar o pai e os meus irmãos na noite do ano novo, ela disse: “quero fazer história de novo e na minha idade(ela tem 68 anos), ver uma mulher presidente não tem preço que pague”, me convenceu.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lula - O Grande Presidente do Brasil - minha homenagem

Pensei muito como seria homenagear um dos maiores presidentes da história do Brasil, qualquer coisa seria muito óbvia, aí lembrei deste pronunciamento em plena crise em 2008. Tenho certeza que foi o diálogo mais claro e direto que vi em minha vida militante. A clareza da mensagem e o chamado para que continuássemos a acreditar no Brasil e em nós mesmo.


Lula é o maior comunicador que já passou na presidência, o texto muito bem escrito e a força que ele imprimiu em cada palavra é digna de maestria no marketing. Considero este o maior momento que Lula teve na presidência, jogou todo seu capital político nesta mensagem e o povo abraçou a idéia e nós vencemos a crise, a despeito de todo furor midiático que torcia contra e o ironizou por conta da "marolinha".

Aqui só tenho a agradecer o que este brasileiro que tinha tudo para dar errado na vida, desde o nascimento, sua luta pela sobrevivência até chegar  agora seu reconhecimento no Brasil e no mundo. É uma centelha que ilumina a vida dos mais simples de que é possível vencer qualquer barreira que a vida impõe, valeu Lula (vejam a intimidade que ele nos fez e faz tão bem)

Pronunciamento do Presidente sobre crise econômica


22  de Dezembro de 2008


Dia 1º de Janeiro estarei lá acompanhando o momento histórico da despedida de Lula e a posse da primeira mulher, tudo muito inédito em tão pouco tempo.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Por que somos Machistas: razões históricas e culturais







Dediquei-me estas duas últimas semanas a encontrar saídas e apaziguar os ânimos dos debates que surgiram pós-publicação do post no Blog do Nassif sobre as feministas.

Concordo em boa parte com os termos que o Renato Rovai escreveu para que não tratássemos a polêmica de forma a nos levar a ruptura desta rica experiência de blogs e pessoas de distintas formações que juntos contraíram o encontro de nacional.

São normais as polêmicas, não estamos numa confraria, temos vários acúmulos e distintas visões de sociedade e de futuro, mas entre nós estas polêmicas dever ir à direção, é o que defendo, da construção de acordos e convivência solidária e de mobilização para defesa das conquistas sociais, tão atacadas.

Como sempre faço como tenho pouco domínio do tema, procurei algumas razões histórica, culturais do machismo é o que segue.



Grécia nosso berço ocidental









Recente publiquei um post no blog sobre Zeus o Deus-Pai, ou o Deus Estado, aquele que concretiza o poder do Homem, macho, na cultura grega, a longa jornada de centenas de anos desde os deuses primitivos ao mais elaborados está diretamente ligado também a passagem da sociedade matriarcal a um novo poder estabelecido: O Patriarcado.

Como ressaltamos este longo período de maturação histórica a forma de representação divina cada vez mais se aproxima do rosto e formato humano.

As comunidades que lutavam para apenas “sobreviver” estavam ligadas ao cultivo da terra, pecuária e a pesca. Suas divindades representam exatamente este caráter de subsistência.

As primeiras deusas são as de fecundidade, Geia (Gaia-Terra) que tudo cria e dela mesmo gerado o céu com este reproduzirá tudo o que é vivo: Mar, Montanhas, arvore e rios. Seu culto é a ligação à terra que tudo dar e reproduz papel fundamental da mulher na definição da estrutura social, é dela que vem a vida e a possibilidade de continuar a existência.

Pus em anexo um longo artigo em que recortei da obra de Junito de Souza Brandão sobre mitologia grega, lá as principais deusas e sua importância para o mundo Grego. Deusas e divindades femininas e suas significaçõe1

A representação feminina, deusas e arquétipos vão migrar conforme a sociedade vai se dividindo em classes e o papel do homem passará a ser preponderante, a ligação à terra permanece forte mas o surgimento da polis(cidades) já traz um novo tipo de agrupamento.

Conseqüentemente os deuses primitivos já não respondem aos anseios deste novo homem, ele passa olhar para estrelas, planetas e seus deuses são fundamentalmente “masculinos”: Urano, Cronos(Saturno) e Finalmente Zeus(Jupiter – Ju (deus) Piter (pai).

Esta nova cosmogonia está intimamente ligada ao destino da Polis, a educação, o poder as artes e cultura, conforme demonstramos Zeus é o ápice pagão, para o mundo grego, politeísta. Zeus já é quase um deus único os demais são submetidos a ele, a reunião das cidades-estado também fundará o estado coligado, federativo grego com a liderança política ateniense.


Pós-Grécia

A diminuição do papel feminino será radical na cultura grega, sua sucessora Romana e por toda cultura ocidental que beberá desta fonte.

Pouco ou nada ajudará a condição da mulher quando o cristianismo toma lugar na religião estatal romana, perdurando por séculos a decadência e as novas sociedades que irão surgir na Europa séculos depois.

Este longo hiato cobrará um preço alto na sociedade capitalista, particularmente na segunda metade do Século XIX, quando as mulheres são levadas ao mercado de trabalho, os novos desafios e direitos sociais e a condição da mulher terá que ser revista pela sociedade do “Homem”.

O movimento socialista abraça a causa e as lutas dos trabalhadores em geral e das mulheres em particular, lutas como direito ao voto, representação será um amalgama desta união.

Obviamente que todas as demandas represadas por mais de 2 milênios de dominação do macho não se resolverá nos marcos de uma sociedade divididas em classes, cujo maior fundamento é lucro.

As novas demandas sociais







A longa luta do Século XX as experiências da revolução russa, a necessidade de concessões burguesas, particularmente na década de 60, fez avançar a luta e o reconhecimento de diretos femininos mais amplos.

Mesmo assim já neste novo Século/Milênio as mulheres se sujeitam as condições mais precárias no mercado de trabalho, na hierarquia social e no reconhecimento de suas conquistas. A sociedade capitalista continua explorando amplamente os trabalhadores, mas duplamente as mulheres.

Obvio que nós, frutos desta sociedade machistas, mesmo militantes nos equilibramos/desequilibramos em reconhecer as legítimas e fundamentais demandas feministas. Somos pouco afeitos a entender a lógica própria desta dinâmica de exploração. A violência, a exploração sexual, o sexismo, são a forma última da dominação nossa, dos machos.

A ampla reparação rumo ao reconhecimento igualitário da luta da mulher passa por nosso próprio aprendizado, nossos limites. Não deixaremos de ser machistas por um passe de mágica, vamos errar feio em muitas coisas, mas o importante é querer mudar e acertar.

Os ânimos ficaram exaltados nestas últimas semanas aqui na Blogsfera, ou blogsferas como preferirem, que tem um corte mais à esquerda, furto justamente deste desconhecimento próprio do que são as demandas e como tratar as diferenças de gênero, neste bojo deveria ser incluído as questões dos negros, do homossexualismo e a liberdade de expressão.

O chamamento que fiz por várias vezes no Twitter para que construíssemos um ambiente de debate, inclusive, claro, das grandes diferenças seria uma forma de avançar, não de abafar as manifestações justas de revolta que as mulheres que se sentiram ofendidas.

Meu blog fica aberto a publicações que se propõem a debater as mais variadas posições, sempre tendo como norte a ruptura com a sociedade de classes, movimentos que avancem as conquistas sociais em geral e dos mais excluídos em particular.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Elomar - A poesia do sertão


Acordei muito cedo e no carro a chuva fina e constante distrai, O cd rola o grande álbum: Cantoria2(Kuarup1988), uma combinação de belas musicas e interpretações destes aedos nordestinos mais que Universais.

Quanto mais você se aproxima do Universal seu ethos local te chama ouvindo Ilmar,Geraldo Azevedo,Xangai e Vital Farias..sinto mais forte o meu nordeste, talvez as musicas,lamentos do sertão tenham uma ligação etérea, telúrica com mistérios de Eleusis dos velhos gregos..Terra,mitos e amores.

Homens ligados a terra, sustento, amor e vida. Fecundar ter esperança no porvir, as ilusões de colher que não vem.. Cantar as estações.. Vem ou não a chuva para que terra venha gerar e parir seus frutos.

Central deste CD é Elomar com sua poesia operística, mais ligada a terra, ao Rio Gavião, sua mítica fazenda dos carneiros, é o poeta do estranhamento, das letras que misturam português provençal a linguagem do matuto, do sertanejo. A poética sofisticada parece simples para gentes da cidade, das letras, mas fruto de elaboração rude e crua do homem-terra.

Quem tiver curiosidade sobre Elomar ( http://www.elomar.com.br/ )  conhecerá sua história no portal dele, segue uma pequena demonstração de sua musicalidade:

O Pidido


Já qui tu vai lá prá fêra
Traga di lá para mim
Agua do fulô qui chêra
Um nuvelo e um carmim
Trais um pacote de misse
Meu amigo ah se tu visse
Aquele cego cantadô!
Um dia ele me disse
Jogano um mote de amô
Qui eu havéra de vivê
Pur esse mundo
E morrê ainda em flô
Passa naquela barraca
Daquela mulé reizêra
Onde almuçamo paca
Panelada e frigidêra
Inté você disse uma lõa
Gabano a boia bôa
Qui das casa da cidade
Aquela era a primêra
Trais pra mim vãs brividade
Qui eu quero matá a sôdade
Fais tempo qui fui na fêra
Ai sôdade...
Apois sim vê se num isquece
Quinda nessa lua chêa
Nós vai brincá na quermesse
Lá no Riacho d'Arêa
Na casa daquêle home
Feitecêro e curadô
Que o dia intêro é home
Filho do Nosso Sinhô
Mais dispois da mêa noite
É lubisome cumedô
Dos pagão qui as mãe isqueceu
Do batismo salvadô
E tem mais dois garrafão
Cum dois canguin responsadô
Apois sim vê se num isquece
De trazê ruge e carmim
Ah se o dinheiro desse!
Eu quiria um trancilin
E mais treis metro de chita
Qui é preu fazê um vistido
E ficá bem mais bunita
Qui Madô de Juca Dido
Qui Zefa de lô Joaquim
Já qui tu vai lá prá fêra
Meu amigo trais
Essas coisinhas para mim...





Trata-se um bilhete que a moça escreve com suas encomendas ao amigo que sai da fazenda e vai a cidade na feira, cada verso é um pedaço da ilusão e sofrimento do sertão, bem como das esperanças de vida nova.

Cantiga de Amigo




Lá na Casa dos Carneiros onde os violeiros
vão cantar louvando você
em cantiga de amigo, cantando comigo
somente porque você é
minha amiga mulher
lua nova do céu que já não me quer
Dezessete é minha conta
vem amiga e conta
uma coisa linda pra mim
conta os fios dos seus cabelos
sonhos e anelos
conta-me se o amor não tem fim
madre amiga é ruim
me mentiu jurando amor que não tem fim




Lá na Casa dos Carneiros, sete candeeiros
iluminam a sala de amor
sete violas em clamores, sete cantadores
são sete tiranas de amor, para amiga em flor
qui partiu e até hoje não voltou
Dezessete é minha conta
vem amiga e conta
uma coisa linda pra mim
pois na Casa dos Carneiros, violas e violeiros
só vivem clamando assim
madre amiga é ruim
me mentiu jurando amor que não tem fim




Lá na Casa dos Carneiros, sete candeeiros
iluminam a sala de amor
sete violas em clamores, sete cantadores
são sete tiranas de amor, para amiga em flor
qui partiu e até hoje não voltou
Dezessete é minha conta
vem amiga e conta
uma coisa linda pra mim
conta os fios dos seus cabelos
sonhos e anelos
conta-me se o amor não tem fim
madre amiga é ruim
me mentiu jurando amor que não tem fim





A sutileza do louvor à amizade entrelaçada a dor da perda da mulher amada que morreu, a reunião dos cantadores para cantar para que ela volte e o fio de esperança brote no coração, que pode ser apenas o lamento de mais um ano de seca, sem florescer.

Às vezes me pergunto tem coisa mais universal que isto? Nós “mudernos” da cidade que mal criamos versos, desprezamos a beleza do homem que canta a natureza, a terra, a vida simples, rude, mas que transforma em estranha, portanto canônica, a poesia do campo.

sábado, 11 de dezembro de 2010

#Rearmamento teórico ou o Silêncio Ensurdecedor

Pessoal empolgado com a saída do Diogo Mainardi da Veja, pensei só uma Direita BURRA, que teve intelectuais brilhantes, hoje admira esgotos como: Reinaldo Azvedo,Merval Pereira,Miriam Leitão,Waak,Jabor...e pior os leva à sério..

Hoje em dia ando mais preocupado com nossa indigência Intelectual à esquerda, do que perder tempo com a sorte  destes esgostos de Direita .Vivemos uma época muito pobre  intelectualmente, reflexo direto das quedas dos muros:Berlim e Wall Street...os dois lados perderam pesadamente.Mas, do nosso “lado” a coisa continua mais complicada de se retomar,vejamos:

1)    A velha esquerda Trotskista que se julgou vencedora com queda do muro de Berlim, foi incapaz de apresentar qualquer projeto de sociedade socialista e democrática que animasse aqueles países das justeza de suas críticas ao Stalinismo;

2)    A Velha esquerda Stalinista, quase enterrada em 89, ressurge pós queda de Wall Street, mas também não traz projeto de sociedade socialista que rompa com seu passado de crimes e erros na Ex-URSS;

3)    A Direita q nadou de braçada nos anos 90/00, vive uma crise sem precedente,mas mantém controle social por falta de alternativa absoluta e não surgimento de uma nova esquerda;

4)    vivemos a contradição de termos uma vaga histórica à esquerda aberta, desde 2008,mas não temos projetos alternativos;

5)    Portanto, não adianta comemorar  a crise da Direita, se não somos capazes de ocupar este espaço, falta-nos teoria e prática revolucionária;

6)    Aqui as nossas heranças:Trotskista ou Stalinista, impedem qualque avanço..o ranço e a pobreza intelectual, torna perjorativo debate, samos,muitas vezes jargões e estigmatizamos qualquer pensamento crítico, os que discordam destas correntes,estreitas e medíocres são logo qualificados de “direita”;

7)    Várias vezes conclamo este rearmamento teórico,a resposta é sempre um : SILÊNCIO ENSURDECEDOR...vamos tocar o bloguinho e cuidarmos do nosso onfalo e sermos sempre os maiores revolucionários de nós mesmo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Zeus Pai : O Deus Estado


Zeus é o deus dos deuses para os gregos é o mais alto grau da evolução de sua Teogonia, conforme se estuda os vários estágios das imensas e sangrentas disputas de poder entre os deuses primevos (Urano, Crono), ele assume como o Deus que porá ordem no universo e nas relações dos homens. Bem observa Junito de Souza Brandão sobre a visão de que os poetas gregos têm de Zeus:

“Hesíodo, no entanto, Zeus simboliza o termo de um ciclo de trevas e o início de uma era de luz. Partindo do Caos, da desordem primordial, para a Justiça, cifrada em Zeus, o poeta sonha com um mundo novo, onde haveriam de reinar a disciplina, a justiça e a paz.”

Ou

“Homero sintetiza o caráter celeste do grande deus indo-europeu: Zeus obteve por sorte o vasto céu, com sua claridade e suas nuvens.”







Continuando com Junito na sua ampla definição do significado da palavra Zeus em várias línguas e seus epítetos:

“ZEUS, em grego Zeus (Zeús), divindade suprema da maioria dos povos indo-europeus. Seu nome significa o que ele sempre foi antes de tudo: "o deus luminoso do céu". O indo-europeu dieu provém de dei-uo, "brilhante, luminoso", donde o latim diuus, deus, com o mesmo sentido. Em sânscrito Dyäus, com aposição de pitar, para indicar o "papel do chefe de família", tem-se Dyäus pitar, equivalente de Zeus pater (Zeus patér), "o chefe, o senhor, o pai do céu luminoso". Em latim, IOU, que provém de *dyew, com a junção de piter (pater), gerou Iuppiter, que tem o mesmo significado que Dyäus pitar. No a.a. alemão Tiu>Ziu se tornou o deus da guerra, aparecendo o mesmo nome igualmente em inglês, sob a forma Tuesday, "o dia de Zeus". Em francês, "o dia de Júpiter" surgiu primeiramente com a forma juesdi, depois jeudi, que é o latim iouis dies, "dia de Júpiter". Aliás, os inúmeros epítetos gregos de Zeus atestam ser ele um deus tipicamente da atmosfera: ómbrios, hyétios (chuvoso); úrios (o que envia ventos favoráveis); astrápios ou astrapaîos (o que lança raios); brontaîos (o que troveja). Nesse sentido, diz Teócrito que Zeus ora está sereno, ora desce sob a forma de chuva.”

Zeus e suas provações


Crono que havia destronado pai Urano do poder cortando-lhe o Pênis, mais do que simbólico perder o poder fálico, poder de fertilizar em abundância, por medo de também ser destronado por um filho com ajuda de sua esposa Réia passa a engoli-los quando são recém-nascidos. Porém, quando Zeus nasce, sua mãe dar uma pedra enrolada num cueiro a Crono que a engole. Réia leva-o ao Monte Ida(Creta) e lá foi criado numa caverna pelos Curetes, sendo amamentado pela cabra Amaltéia. Esta é a primeira parte do Rito iniciático do Grande Deus.

Quando atinge a idade adulta luta contra seu pai  liberta seus irmãos e Irmãs que foram engolidos pelo pai e juntos enfrenta os tios Titãs, com ajuda dos Ciclopes e os Hecantoqueiros que são soltos do Tártaro por Zeus e os irmãos para ajudar na luta, conhecida como Titanomaquia. Estes agradecidos dão os raios e os trovões a Zeus, o capacete da invisibilidade a Hades e o Tridente para Posídon. Juntos com estes novos poderes eles derrotam os titãs depois de 10 anos de guerra.

Por sorteio cada um recebe um reino para administrar: Zeus caberá o Céu e a supremacia, Hades recebe o reino subterrâneo ou Hades(Infernum – mansão dos Mortos) e Posídon o Mar. Porém os Géia revoltada com a prisão dos Titãs no Tártaro, lança contra eles primeiro os gigantes depois o poderoso Tifão.

Estas lutas simbolicamente representam o Novo contra a velha ordem, para se estabelecer é preciso lutar longamente contra os seus males interiores, velhos, seus fantasmas e seus medos. Enfrentar família, poder estabelecido, sociedade conservadora.

A última prova enfrentada por Zeus é contra o poderoso Tifão, que era uma espécie hibrida de vários monstros, serpentes, era alado e muito poderoso, chega a prender Zeus numa caverna (regressus ad uterum) mutilando-o gravemente. Com a ajuda de Hermes e Pã, ele se “recompõe” (ressuscita – Anabase) e derrota finalmente Tifão, jogando na Sicilia e jogando sobre ele o Etna, que até hoje lança suas larvas.

Zeus Pai: Par e ímpar


Junito nos faz uma brilhante explicação sobre o caráter iniciático da ascensão de Zeus ao poder, detalha inclusive a relação entre mutilação e poder UNO:

“Para se compreender bem a mutilação é mister fazer uma dicotomia, uma distinção entre mutilação de ordem social e mutilação ritual. Se entre os Celtas o rei Nuada não mais pôde reinar por ter perdido um braço na batalha e o deus Mider é ameaçado de perder o reino, porque acidentalmente ficou cego de um olho, trata-se, em ambos os casos, de um aspecto apenas social do problema. O sentido ritual da mutilação é bem outro. Para se penetrar nesse símbolo é bom relembrar que a ordem da "cidade" é par: o homem se põe de pé, apoiando-se em suas duas pernas, trabalha com seus dois braços, olha a realidade com seus dois olhos. Ao contrário da ordem humana ou diurna, que é par, a ordem oculta, noturna, transcendental é UM, é ímpar. O disforme e o mutilado têm em comum o fato de estarem à margem da sociedade humana ou diurna, uma vez que neles a paridade foi prejudicada. Numero deus impari gaudet, o número ímpar agrada ao deus, diz o provérbio, mas an odd number significa também em inglês um "tipo estranho, um tipo incomum", e a expressão francesa il a commis un impair significa que alguém "cometeu uma inconveniência", "fez asneira", transgredindo, por leve que seja, a ordem humana. O criminoso "comete uma terrível inconveniência", transgredindo gravemente a ordem social; o herói se "singulariza perigosamente". Ambos realçam o sagrado e só se distinguem pela orientação vetorial do herói: sagrado-esquerdo e sagrado-direito. O vidente, como Tirésias, é cego; o gênio da eloqüência é gago. . . a mutilação tem pois dois lados, revestindo-se também da complexio oppositorum, possuindo, assim, valor iniciático e contra-iniciático



(... )

A mutilação de Zeus é partícipe do “sagrado-direito": visa em última análise, a prepará-lo para ser Um, para ser o rei, para ser ímpar, para ser o soberano, para ser o senhor.”

(...)

As lutas de Zeus contra os Titãs (Titanomaquia), contra os Gigantes (Gigantomaquia), episódio, aliás, desconhecido por Homero e Hesíodo, mas abonado por Píndaro (Neméias, 1, 67), e contra o monstruoso Tifão, essas lutas, repetimos, contra forças primordiais desmedidas, cegas e violentas, simbolizam também uma espécie de reorganização do Universo, cabendo a Zeus o papel de um "re-criador" do mundo. E apesar de jamais ter sido um deus criador, mas sim conquistador, o grande deus olímpico torna-se, com suas vitórias, o chefe inconteste dos deuses e dos homens, e o senhor absoluto do Universo. Seus inúmeros templos e santuários atestam seu poder e seu caráter pan-helênico. O deus indo-europeu da luz, vencendo o Caos, as trevas, a violência e a irracionalidade, vai além de um deus do céu imenso, convertendo-se, na feliz expressão de Homero (Il. I, 544)  pater andron te theonte  (patèr andrôn te theônte), o pai dos deuses e dos homens



(...)

Tão logo o pai dos deuses e dos homens sentiu consolidados o seu poder e domínio sobre o Universo, libertou seu pai Crono da prisão subterrânea onde o trancafiara e fê-lo rei da Ilha dos Bem-Aventurados, nos confins do Ocidente. Ali reinou Crono sobre muitos heróis que, mercê de Zeus, não conheceram a morte. Esse destino privilegiado é, de certa forma, uma escatologia: os heróis não morrem, mas passam a viver paradisiacamente na Ilha dos Bem-Aventurados. Trata-se de uma espécie de recuperação da idade de ouro, sob o reinado de Crono”

Casamentos e uniões





O grande deus que surge é o que consolida o novo poder do Homem Grego, derrota os deuses primevos da natureza, da rudez, junto com a sociedade matriarcal que entra em declínio. Mas para se consolidar como o deus dos deuses, ele tem que ser fecundo, espalhar e unir-se na sociedade, na natureza, ampliando seu poder de força às alianças terrenas.

Aqui temos em mais detalhes trazidos por Junito, as várias uniões e os seus significados:

“Zeus é, antes do mais, um deus da "fertilidade", é ómbrios e hyétios, é chuvoso. É deus dos fenômenos atmosféricos, como já se disse, por isso que dele depende a fecundidade da terra, enquanto khthónios. É o protetor da família e da pólis, daí seu epíteto de polieús. Essa característica primeira de Zeus explica várias de suas ligações com deusas de estrutura ctônia, como Europa, Sêmele, Deméter e outras. Trata-se de uniões que refletem claramente hierogamias de um deus, senhor dos fenômenos celestes, com divindades telúricas. De outro lado, é necessário levar em conta que a significação profunda de "tantos casamentos e aventuras amorosas" obedece antes do mais a um critério religioso (a fertilização da terra por um deus celeste), e, depois, a um sentido político: unindo-se a certas deusas locais pré-helênicas, Zeus consuma a unificação e o sincretismo que hão de fazer da religião grega um caleidoscópio de crenças, cujo chefe e guardião é o próprio Zeus.

Essas hierogamias são as catalogadas por Hesíodo (Teog. 886-944). A lista, no entanto, foi bastante ampliada após o poeta da Beócia. Vamos, pois, repetir o quadro com os necessários acréscimos, sobretudo com aqueles que têm maior interesse para o mito:

Zeus e Métis foram pais de Atená

Zeus e Têmis geraram as Horas e as Moîras

Zeus e Eurínome geraram as Cárites

Zeus e Deméter geraram Core ou Perséfone

Zeus e Mnemósina geraram as Musas

Zeus e Leto geraram Apoio e Ártemis

Zeus com sua "legítima" esposa Hera gerou Hebe, Ares, Ilítia

(e Hefesto?) Zeus e Maia geraram Hermes Zeus e Sêmele geraram Dioniso Zeus e Alcmena geraram Héracles Zeus e Dânae geraram Perseu

Zeus e Europa geraram Minos, Sarpédon e Radamanto Zeus e Io geraram Épafo Zeus e Leda geraram Pólux e Helena, Castor e Clitemnestra.

Eis aí os principais amores do senhor do Olimpo. Observe-se que as "sete" primeiras ligações de Zeus o foram com deusas e as "sete" outras são consideradas como simples uniões ou amores passageiros com mortais. O que na realidade acontece é que a maioria dessas mortais eram antigas imortais, que, por um motivo ou outro, sobretudo em razão de sincretismos, tiveram seus cultos absorvidos por deusas mais importantes e foram rebaixadas ao posto de heroínas, de princesas ou de simples mortais, como se verá. “















Zeus : Deus-único









Um debate muito atual sobre a questão do Deus-Único, que carregamos nos nossos valores da sociedade ocidental, também parte da Grécia antiga, quando Zeus derrota seu Pai e os tios Titãs, depois as forças da Natureza, ele toma pra si todo o poder, traz aos nossos olhos o entendimento de que aquelas cidade-estado já não vivem mais isoladas e o mundo pan-helênico necessita de um poder “central” que emane ordem, estrutura, hierarquia e leis que sejam aceitas por todos. Zeus/Estado funda-se nesta necessidade, mas escutemos Junito, pondo a questão em outros termos:

“Mas, que representa, afinal, esse deus tão importante para os Gregos, dentro de um enfoque atual? Após o governo de Urano e Crono, Zeus simboliza o reino do espírito. Embora não seja um deus criador, ele é o organizador do mundo exterior e interior. Dele depende a regularidade das leis físicas, sociais e morais. Consoante Mircea Eliade, Zeus é o arquétipo do chefe de família patriarcal. Deus da luz, do céu luminoso, é o pai dos deuses e dos homens. Enquanto deus do relâmpago configura o espírito, a inteligência iluminada, a intuição outorgada pelo divino, à fonte da verdade. Como deus do raio, simboliza a cólera celeste, a punição, o castigo, a autoridade ultrajada, a fonte de justiça. A figura de Zeus, após ultrapassar a imagem de um deus olímpico autoritário e fecundador, sempre às voltas com amantes mortais e imortais, até tornar-se um deus único e universal, percorreu um longo caminho, iluminado pela crítica filosófica e pela evolução lenta, mas constante da purificação do sentimento religioso. A concepção de Zeus como Providência única só atingiu seu ápice com os Estóicos, entre os séculos IV e III a.C, quando então o filho de Crono surge como símbolo de um "deus único", encarnando o Cosmo, concebido como um vasto organismo animado por uma força única. É indispensável, todavia, deixar bem patente que os Estóicos concebiam o mundo como um vasto organismo, animado por uma força única e exclusiva, Deus, também denominado Fogo, Pneuma, Razão, Alma do Mundo. .. Mas, entre Deus e a matéria a diferença é meramente acidental, como de substância menos sutil a mais sutil. A evolução desse Teocosmo, desse deus-mundo, é necessariamente fatalista, pois que obedece a um rigoroso determinismo. Desse modo, aos imprevistos do acaso e ao governo da Providência divina se substitui a mais absoluta fatalidade.



(...)

“Os "modernos", todavia, denunciaram em determinadas atitudes do poderoso pai dos deuses e dos homens o que se convencionou chamar de Complexo de Zeus. Trata-se de uma tendência a monopolizar a autoridade e a destruir nos outros toda e qualquer manifestação de autonomia, por mais racional e promissora que seja. Descobrem-se nesses complexos as raízes de um manifesto sentimento de inferioridade intelectual e moral, com evidente necessidade de uma compensação social, através de exibições de autoritarismo. O temor de que sua autocracia, sua dignidade e seus direitos não fossem devidamente acatados e respeitados tornaram Zeus extremamente sensível e sujeito a explosões coléricas, não raro calculadas.”

Tem como não gostar, ler e estudar a Grécia Antiga? Boa parte de nosso pensamento vem de lá, nossas agruras, nossos plexos de idéias e complexos próprios de nossa herança cultural, genética, ética e filosófica.

Grécia consolidou uma época histórica e legou ao mundo ocidental toda esta carga de saber e valores que ainda hoje tratamos no dia a dia. Bem verdade é que Roma nos legou a política, conceito de impérios, de Direito, é na Grécia que está à fonte do que é o Homem Ocidental.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

#WikiLeaks : As dúvidas que Ficam

Fenômeno da Wikileaks tem tirado sono tanto da esquerda, como da Direita, mas sinceramente a conta, para mim, não fecha, há algo mais profundo em todo este movimento aparentemente insano de desnudar o DEA e a Inteligência Americana, fiz apontamento de algumas questões que gostaria de compartilhar com vocês:

I - Internet x Velhas mídias

1)    Padrão de vazamento de documentos secretos sempre faz parte de conspirações ou guerras sujas internas em órgãos de Inteligência;

2)   Caso WaterGate é que nos vem em mente de forma mais imediata, o ex-vice-presidente do FBI W. Mark Fel era o “Garganta profunda” que vazou os documento ao Washington Post, depois de tentar repassá-los ao NY Times;

3)    Concluo que não há nada de novo no aspecto destes documentos chegarem ao público via site do wikileaks, ao contrário de muitos que saúdam como algo revolucionário;

II - A quem interessa o vazamento?

1)    Aqui começa o grande problema: Saber a quem interessa este vazamento, que por maior que seja ainda é seletivo, por mais comprometedor, não revela sua estratégia;

2)    Qual a cadeia de comando por trás deste intenso desnudar da política do DEA? Uma ultra-direita? Um desejo de voltar os “valores” americanos? Que falcões estão descontentes? Com quem: Hillary ou Obama?

3)    Constrangimento geral de aliados, personalidades, países, dão uma pista do tipo de seletividade dos documentos, mas não dão resposta definitiva a quem quer se atingir de forma definitiva;

4)    No caso WaterGate quem pagou pelo escândalo foi Nixon, seria Obama o alvo?Uma renuncia ou um impedimento?A cada dia mais próximo se chega do coração da crise, a Casa Branca;

III – Sem conclusões definitivas

A)   Acirramento político e social, agravado pela crise econômica, gerou um amplo movimento protofascista nos EUA, a derrota humilhante dos Democratas e a tentativa até dos Republicanos de se diferenciar do radicalismo do Tea Party deixa-nos extremamente preocupados com a política futura do império;

B)   Esta empolgação que muitos demonstram sobre o vazamento, que a mídia alternativa, nova mídia, esteja na vanguarda dos acontecimentos, sinceramente me deixa preocupado, parece um efeito manada, sem uma visão crítica de exatamente o que está por trás de tudo isto;

C)   Temo que estejamos chancelando um golpe muito mais duro na atual gestão americana, piorando ainda mais as condições políticas da classe trabalhadora americana, que em última análise pagou completamente o pato pela imensa crise;

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Grécia: O eterno retorno


Ao estudarmos mitologia grega, e mesmo sua versão empobrecida Romana, ficamos maravilhados com aquele mundo fantástico, muitas vezes nem percebemos as suas implicações no nosso presente, o comportamento dos heróis, mitos ou deuses através da psique nos conecta ao nosso íntimo, nossa personalidade, nosso Gene e Ethos.

Estava relendo alguns textos sobre a relação de mitos, heróis e os seus ritos iniciáticos(passagem de estágios na vida: Menino – Homem), como sempre retorno ao mestre Junito de Souza Brandão, pois ele expõe com perfeição qual a unidade lógica de cada coisa, leiamos juntos:

Cavernas, Labirintos e útero


As grutas e cavernas desempenhavam um papel religioso muito importante, não apenas na religião cretense, mas em todas as culturas primitivas. A descida a uma caverna, gruta ou labirinto simboliza a morte ritual, do tipo iniciático. Nesse e em outros ritos da mesma espécie, passava-se por "uma série de experiências" que levavam o indivíduo aos começos do mundo e às origens do ser, donde "o saber iniciático é o saber das origens".

Esta catábase é a materialização do regressus ad uterum, isto é, do retorno ao útero materno, donde se emerge de tal maneira transformado, que se troca até mesmo de nome. O iniciado torna-se outro. Na tradição iniciática grega, a gruta é o mundo, este mundo, como o concebia Platão (República VII, 514, ab): uma caverna subterrânea, onde o ser humano está agrilhoado pelas pernas e pelo pescoço, sem possibilidade, até mesmo, de olhar para trás. A luz indireta que lá penetra provém do sol invisível, que, no entanto, indica o caminho que a psiqué deve seguir, para reencontrar o bem e a verdade.

À idéia de caverna está associada o labirinto Numa visão simbólica, o labirinto, como as grutas e cavernas, locais de iniciação, tem sido comparado a um mandala, que tem realmente, por vezes, um aspecto labiríntico.

Assim, em termos religiosos cretenses, o Labirinto seria o útero; Teseu, o feto; o fio de Ariadne, o cordão umbilical, que permite a saída para a luz

"Muito provavelmente, como pensa Mircea Eliade, a lenda dos companheiros de Teseu, sete rapazes e sete moças, 'oferecidos' ao Minotauro, reflete a lembrança de uma prova iniciática desse gênero. Infelizmente ignoramos a mitologia do touro divino e o seu papel no culto. É provável que o objeto cultuai especificamente cretense, denominado 'chifre de consagração', represente a estilização de um frontal de touro. A sua onipresença confirma a importância de sua função religiosa: os chifres serviam para consagrar os objetos colocados no interior"

As touradas atuais, diga-se de passagem, sobretudo as espanholas, em que se mata e se devora o touro, simbolizariam uma comunhão com o animal, uma aquisição de seu mana, de sua enérgeia, já que o touro, seja o Minotauro, seja o feroz Rudra do Rig-Veda, é portador de um sêmen abundante que fertiliza abundantemente a terra. Ao culto em favor dos vivos estava indissoluvelmente ligado o culto em benefício dos mortos



Ontem e Hoje



Teseu é apenas um herói que passa tão detalhadamente pelo rito iniciático de ir à Creta e matar o Minotauro, livrar Atenas de pagar com a vida dos seus jovens imposta por Minós. Era fundamental a Teseu fazer sua Catábase, descida ao labirinto enfrentar seu “Monstro” matá-lo e de lá fazer sua Anabase, subida, já como Homem e Herói.

Os Junguianos interpretam estes mitos de forma bastante coerente, apontando traços comuns em diversas culturas e trazendo até os dias de hoje vários aspectos comuns de nossas vidas, nossas lutas, que às vezes fazemos determinada ação e não compreendemos a lógica ou o porquê de fazê-lo.