terça-feira, 19 de abril de 2011

Crônicas do Japão VII: Cotidiano e tecnologia


Rotina nos Trens



A rotina de quem anda de trem, trabalha ou estuda em Tókio e nas cidades grandes são desgastantes, pois, logo cedo os trens estão lotados, filas são imensas nas estações, cada vagão há um guarda todo paramentado, inclusive com luvas brancas que ao receber o sinal do controlador delicadamente empurra os últimos passageiros.


Trens cheios, poucos bancos, às vezes nenhum, uma coisa que choca um ocidental é que ninguém dar lugar nos bancos quer seja para mulheres, mesmo grávidas ou idosas. Certa feita eu cedi meu lugar a uma senhora ela recusou, eu insistir, até que ela se sentou, ficou espantada, porém ao meu lado, um cara começou a falar mal, mal sabia ele que eu entendia os impropérios, apenas porque dei meu lugar. Bem estas coisas culturais têm que aceitar e respeitar.


Havia também na época uma campanha por denuncia dos assédios sexuais nos trens, era muito comum os homens se aproveitarem dos vagões lotados e “passar a mão”, infelizmente pouca mulheres enfrentava aquele constrangimento e os denunciava, uma sociedade machista demais em que as mulheres se submetem a este tipo de humilhação.

Outra coisa muito curiosa e espetacular era a técnica de “dormir em pé”, caramba os caras literalmente dormiam durante os trajetos, mesmo mal acomodados, aquilo sim é técnica sofisticada de relaxamento, mais ainda, tinham um despertador automático de descer exatamente em suas respectivas estações... Quer dizer nunca confirmei se eles não tinham passado do ponto... Mas dormir em pé é sensacional.


 "Dormidor"

Mangas


Entrar no trem é ver milhares de Mangas abertos, as revistas populares com historias que vão de jogos de beisebol até as lutas de samurais, passando por moda, estilo de vida, as mais variadas e coloridas, que, invariavelmente, perdida no meio delas tem umas novelinhas eróticas, assim do nada, claro com os famosos “tapa sexo” (mosaicos).


(Pai)

Os Mangas ajudam no vocabulário e disseminação de uma língua muito complexa, rica em detalhes, seus ideogramas com significados próprios, algumas palavras com a mesma fonéticas, mas separadas radicalmente quando se ler o kanji, por exemplo, hospital e cabeleireiro têm o mesmo som, mas são escritos de forma totalmente diferentes. Estas sutilezas de uma língua com seus mais de 15 mil ideogramas precisam ser popularizados para amplo conhecimento, os mangas são excelentes neste aspecto. Curiosidade, apenas para se ler a capa de um Shibum (jornal) é preciso conhecer pelo menos 1000 Kanjis, para ler o jornal inteiro, uns 3000, um graduado numa universidade domina 10000. Como falei a língua é usada também como instrumento de dominação e de hierarquia, na sociedade, no trabalho, na vida.



Celulares

 

Já em 1996 os celulares eram muito populares no Japão, muito coloridos, tela com boa definição, porém ainda muito pequenas, os primeiros mangas para celular começavam a circular, em cima do SMS, as mensagens traziam curtos contos e figuras.

Recentemente com a explosão dos smartphones, da possibilidade de telas maiores os celulares vão paulatinamente concorrendo com os mangas, em 2009 o livro mais lido no Japão foi transmitido via celular, para mais de um milhão de aparelhos, o download era enviado principalmente na hora que se ia ao trabalho, capítulo a capítulo.


Desde daquela época as músicas também eram comercializados nos celulares, desde 2000 a maior fonte de lançamento de músicas no Japão são feitas via celular, as operadoras são as maiores distribuidoras de músicas, se paga pelo recebimento dos “single” que são convertidos imediatamente em ring tones.

As principais operadoras celulares são gigantes que investem pesado em tecnologia, antecipando tendências e gerações de celulares. Em 2000 a primeira versão da 3G, foi customizada para o Japão. Em 1996 havia 46 milhões de terminais, no Brasil naquela época não chegava 2 milhões, todos lá eram digitais, aqui caminhava-se com os terminais analógicos. Naquela época mesmo os EUA o celular ainda não era massivo, com menos de 20 milhões de terminais.

Por morar em residências muito pequenas, preço do metro quadrado nas grandes cidades é absurdo, tudo que se pode tornar minúsculo se fazia, os CDs, foram rapidamente substituídos por MDs de posteriormente pelo MP3, espaço é vital, TVs de Plasma, LCD, LED substituíram as de tubo, mesmo estas na época que morei eram bem reduzidos os tubos para ocuparem o menos espaço possível.


A revolução digital mais do que um luxo no Japão se tornou uma necessidade, aperfeiçoar produtos, facilitar armazenamento é fundamental, poderosos Notebooks, aqui era uma raridade em 1996, já era amplamente usado no Japão.

Crônicas do Japão VI: As torres de Tókio


Nec Supertower e baía de Tókio ao fundo

A popularização de prédios colossais foi uma moda na época que a economia japonesa estava em plena ascensão, em particular nos anos 80, as construções eram símbolo da pujança da empresa e do país, erguer edifícios “conceituais” virou uma forma de demonstrar quem é quem, prédios centrais das companhias japonesas viraram atração, tanto interna como externa. Seus imensos prédio, com os famosos mirantes rapidamente viraram febre de visitação para bater pelas fotos. Abaixo alguns que visitei em 1996.

Nec Supertower


Uma semana depois de ter ido a primeira vez a Tókio, fui fazer uma visita de boas vindas no prédio da Nec SuperTower em Tamachi. Fizemos toda uma preparação, pois o Head Office da empresa mundial tinha sido recém inaugurado e virou atração turística pela imensa torre, até então uma das mais alta da cidade.

A Nec SuperTower que tive o prazer de visitar era algo inacreditável, estamos falando de um prédio em 1996, cujos computadores de seus funcionários trabalhavam em rede, a Intaneto (Internet) ainda usava fraldas, mesmo no Japão, porém, lá,  a própria Nec,  produzia programas de WebTv que ao lado da tela de trabalho, geralmente telas grandes, divididas ao meio, os funcionários recebiam os releases OnLine. Aquilo era incrível, ao mesmo tempo em que você trabalhava, recebia notícias do mundo, lógico que as matérias eram seguimentadas, mas já era algo revolucionário.

O conceito de prédio inteligente era de cima a baixo, por exemplo, se alguém ia ficar além das 17:30, deveria comunicar a administração, através de memo(pré-email), qual temperatura e luminosidade gostaria para sua baia. O andar ficava com pouca iluminação e apenas nos locais em que havia gente a trabalhar maior claridade.

O Prédio era servido por uma estação própria de metrô, na época nos seus imensos 180 metros e 43 andares, trabalhavam 12 mil pessoas, entre o 35º e 37º havia um lindo jardim, uma beleza de criatividade e equilíbrio, deste andar em dias de tempo claro se via o Monte Fuji. Os elevadores inteligentes serviam a grupos de andares, porém acima do 37º apenas os executivos mundiais da empresa e visitantes ilustres.

Tókio Tower

 

Tokyo Tower

A Tókio Tower com seus 333 metros foi construída inspirada na Torre Eifel, lá é um concentrador de TVs, Rádios, links de rádios para celulares e internet. Inaugurada em 1958 e mais 150 milhões de pessoas já pagaram para admirar a cidade, nos seus dois mirantes (primeiro 150 metros, o segundo, especial nos 280 metros. É uma visão de tirar o fôlego.

Shinjuku - Prefeitura de Tókio

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Tokyo Metropolitan Government Building



O conjunto arquitetônico da prefeitura de Tókio é belíssimo, localizado em Shinjuku, são vários prédios que convergem para o principal dar uma impressão de uma nau e seu mastro central que lhe capitaneia. Mede 242 metros, também aberto a visitação, paga, claro, nada lá é de graça. É uma visão oposta da Nec supertower e Tókio tower que ficam ao sul, este prédio fica na região norte da cidade. Só a ampliação do prédio da prefeitura em 2005 custou 1 bilhão de dólares, motivo de polêmica de gasto do dinheiro público.

Aliás, Shinjuku concentra várias e imponentes torres de grandes empresas privadas que rivaliza com prédio da prefeitura, como sede do grupo Sumitomo. Tem também as torres: Mitsui, Park tower, Opera City. Todas com mais de 200 metros de altura.

Tokyo Opera City cropped.jpg  

 Tokyo Opera City Tower                 Shinjuku Mitsui Building