quarta-feira, 13 de abril de 2011

FHC: A Democracia sem Povão

O mais novo deboche que FHC fez ao povo brasileiro foi inaugurar uma nova fase na cultura política de seu partido: A Democracia sem Povo, ou em suas palavras – Povão – esta massa ignara que tem pouco ou nenhum discernimento político que é a presa fácil para partidos de esquerda. (ver Blog do Nassif - FHC: o político à procura de um discurso ). A Folha de S  Paulo lhe deu amplo destaque, pois , é a preparação de FHC lançar seu Portal de Política - ou seja - vai ensinar a fazer : Política sem Povo.

Por este raciocínio faz todo sentido, prescinde-se de “povão”, o ideal é concentrar esforços na elite, nas classes médias gerenciais, a partir delas se deve apenas indicar os números nas urnas eletrônicas que esta massa inculta votará. Por esta lógica para que eleição? Ou para que ir votar, libera-se e incute-se nas cabeças que a democracia não faz sentido algum, pois os ignorantes não a entendem.

Num clássico rompimento com as conquistas elementares de representação popular o príncipe da sociologia brasileira faz sua melhor reflexão, expondo a nu todo seu elitismo, sua visão autoritária e aristocrática de condução de uma nação. Os laços, até liberais, dos ideais da revolução francesa, são quebrados no novo modelo partidário e de conquista do poder. Ao escolher o caminho da “democracia” sem “povão” se despreza o sujeito social que é fim último de qualquer democracia real ou formal.

Ler mais um conjunto de obviedades, trasvestidas de pompa de intelectual pobre e burlesca, parecem um último suspiro do combalido PSDB e de seu maior representante. Mesmo na loucura, ele revela um método, nos diz Shakespeare, que é a busca diuturna para se criar uma casta, uma elite - política, intelectual e gerencial - que prescinda do Povão, foi assim em todo seu governo, em particular no desastrado segundo mandato, assacado na ameaça da desvalorização do real e medo de que Lula poria fogo no Brasil.

Rupturas no PSDB



Em significativa entrevista de rompimento com o PSDB, Bresser Pereira,( via Blog do Nassif Bresser-Pereira deixa o PSDB) fundador e um de seus maiores intelectuais, diz claramente qual a opção política e intelectual que norteou o governo FHC e seus desdobramentos sinistros com a perda da identidade nacional, era uma apologia cega ao mercado, uma certeza inútil de que a globalização no abriria o mundo.

Os primeiros anos dourados do Real deram lugar à crueza das crises dos tigres asiáticos e posterior crise russa, que abalou definitivamente a fé no mercado, com um agravante, os instrumentos de estado, tinham sido completamente destruídos, levou o Brasil a passar 4 anos de profunda agonia (Janeiro de 1999 a Setembro de 2003).

A herança maldita, a que Lula se referia, era uma combinação de estado desmobilizado com uma profunda crise econômica. Dívida pública astronômica, déficit publico, exportações engessadas e falta de iniciativa de buscar novos mercados. Setores inteiros completamente destruídos, como setor elétrico, com apagão e pouca expectativa de melhoria.

O artigo vai à contramão das maiores conquistas dos últimos anos, que foi a ampla incorporação de parcela significativa dos trabalhadores que vivia à margem do mercado, sem renda ou cidadania. Este “povão”, que FHC despreza, é que hoje faz a diferença do Brasil no mundo, é o legado de Lula.

A busca do discurso pela oposição já gerou seu primeiro fiasco, apesar do amplo destaque que a mídia dócil ao ex-presidente, afasta mais ainda a oposição da vida real da maioria da população brasileira. Continuam fazendo, agora assumidamente, política sem Povão, para uma elite bem determinada. Enfraquece a democracia de qualquer maneira a falta de maior qualificação do debate e do embate político e programático.


Brasil x China - modelos de desenvolvimento de Telecomunicações comparados

A revolução das comunicações

No início dos anos 90 o mundo, além da queda do muro de Berlim, se preparava para uma nova era na área de comunicações - a tecnologia de telefonia celular, por volta de 1992 os principais padrões mundiais foram definidos: Na Europa – o GSM, nos EUA – o CDMA. Ambas tecnologias prometiam a digitalização da voz libertando das interferências, quedas de chamadas, e o pior a insegurança da comunicação.

Este novo cenário fez com que as maiores players de equipamentos telefonia fixa passassem a investir pesado na nova revolução, e buscaram novos locais no mundo para baratear a produção e garantia de presença em novos mercados. Países investiram firme para se capacitar e receber estes investimentos e criar novas indústrias mundiais. Dois exemplos deste esforço foram: Finlândia com a Nokia e Coréia do Sul com Samsung e LG.(tratei destes casos no post: Tecnologia – Nokia e Samsung – Exemplos para o Brasil)



Modelo Chinês

Em 1995 a China decide participar efetivamente deste novo momento, a nova política econômica aprovado pelo Governo chinês foi atrair as grandes empresas de Telecomunicações, dando-lhes acesso ao seu mercado, porém com a contrapartida de que eles tivessem acesso à tecnologia e pudessem compartilhar licenças e patentes de produtos.

Coordenado pelo ministério da indústria e de comunicações, a China montou grandes laboratórios para que os equipamentos dos grandes fabricantes fossem montados e interconectados aos protótipos chineses. Por exemplo uma Central de Comutação de fabricante X é conectada ao agregador de Estação de Rádio base chinês, ou vice-versa. Esta estratégia rapidamente deu grandes frutos, as duas empresas chinesas fomentadas pelo governo Huawei e ZTE aprenderam muito rápido a lógica de funcionamento fim a fim e começou a desenhar seus produtos com alta tecnologia.

Ontem Dilma assinou acordos de um grande laboratório de pesquisas da Huawei para funcionar em Campinas, investimento em torno de US$ 350 milhões, mas poucos sabem quem é a empresa chinesa. A Huawei é uma empresa chinesa que em menos 10 anos se tornou a vice-líder mundial em Telecomunicações, atrás apenas da Secular Ericsson, com Alta tecnologia e inovação

Em 15 anos a Huawei e ZTE são casos de sucessos, política de estado, que os neoliberais odeiam. Os chineses foram geniais: tinham projeto, estratégia, academia, desejo de aprender, certeza que dominariam a arte em pouco tempo. Eles literalmente saíram do Zero em Telefonia não produziam nada decente, conheci os primeiros protótipos de centrais telefônicas chinesas eram ruins demais, bem piores que os que fazíamos no Brasil. Em pouco tempo lançaram, o que considero, as melhores centrais telefônica do mundo, com a vantagem sobre os demais, sem legado pra administrar, ousaram produzir modernas NGN(next Generation).

Brasil perdeu o bonde da tecnologia

Se ao invés de entregarmos as empresas de telecomunicações tivéssemos política industrial nacional, hoje poderia o Brasil ter um fabricante com expressão mundial, mas não tem. Erros graves de uma política entreguista foi o legado de FHC, perdemos o bonde histórico de tecnologia de ponta em vários setores, em Telecomunicações é bem nítido.

Mesmo os grandes fabricantes instalados no Brasil, abandonaram o desenvolvimento e passaram apenas a importar e no máximo montar partes dos equipamentos, houve perda de empregos e de qualidade dos empregos, alguns fabricantes se foram, maior exemplo é a Nec, que chegou a ser a maior empresa de equipamentos de telefonia do Brasil.

Havia capital abundante no mundo, busca de novos mercados para produção e desenvolvimento, FHC preferiu o capital especulativo. Perdemos a vez ali, por volta de 97 a 99. O dinheiro abundante, as grandes empresas querendo ir para novos mercados. Podíamos e tínhamos como fazer até melhor que os chineses, mas não tínhamos projeto de Nação (aquilo que o Bresser falou na entrevista ao valor Econômico).

O modelo de privatização sem contrapartida nacional, de incentivo a indústria de telecomunicações, pouca articulação para que as compras fossem feitas prioritariamente baseadas no que aqui se produziam, fez com que rapidamente se desmontasse o setor.

Apresentar resultado dos milhões de celulares muitas vezes mascara o fracasso de sermos apenas consumidores de produtos que não se faz aqui, que não geram empregos de melhor qualidade, entraremos na 4ª geração de telefonia celular ( ver artigo Celulares: Ontem, hoje e amanhã ) e continuaremos fora do circuito. Mesmo a universalização da Banda Larga, efetivamente não se dará numa articulação de setores de serviços de Telecomunicações com a de fabricação nacional destes produtos.

Governo Lula pouco alterou deste cenário de terra arrasada em telecomunicações , acertadamente,  priorizou a Petrobrás, mas não acredito que teremos desenvolvimento e importância no mercado mundial apenas em cima do petróleo,  que é muito, mas precisamos  buscar terreno em tecnologia e alternativas.