quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

“Mãe”, a Minha Mãe na posse da Dilma


Máximo Gorki escreveu o romance Mãe em 1907, em que conta a estória de Peláguea Nilovna viúva e o jovem Pavel órfão, a trajetória do garoto que entra muito cedo para luta revolucionária  e por sua influência sua mãe acaba participando da luta. Bem, não me chamo Pavel, nem a minha se chama Peláguea, mas enfim, temos muitas coisas em comum.

Trajetória Estudantil



Aos 13 anos tive meus primeiros contatos com a luta da esquerda. Estudava num colégio em Fortaleza, o dono  um deputado do P-MDB, que era militante do PC do B(clandestino), então ele abrigava vários professores que tinham sido presos, torturados e alguns exilados durante a ditadura. Era um garoto crescido no interior, recém mudado para capital, muito curioso, meio nerd, minha maior diversão eram os livros, principalmente Monteiro Lobato e história. Lia os livros didáticos como se fossem romances. Aquele ambiente de reinicio do movimento estudantil, de liberdade, das faixas vermelhas, apesar de confuso me atraiu rápido.

Certo que em 1984 já na Escola Técnica Federal, já participava intensamente do Movimento Estudantil, não entrara em nenhuma corrente, era disputado pelos extremos PC do B e Alicerce (Convergência Socialista), resolvi por conta própria ler os clássicos marxistas, sem me filiar a ninguém

Em 1985 fizemos um amplo comitê de apoio a Maria Luiza Fontenelle,  a primeira prefeita do PT numa capital. Aquilo foi fantástico, me senti fazendo história. Nesta época, já com alguma base teórica me juntei ao CGB (Coletivo Gregório Bezerra) uma ruptura do antigo partidão, iniciada por Prestes, que optou por seguir Brizola. Estes pequenos grupos se mantiveram a margem do PT, dentro da CUT, no Movimento Estudantil, combatendo à esquerda.

Mãe



Aqui entra a importância da minha Mãe na minha militância, na infância ela me influenciou no gosto pela leitura, no incentivo em estudar, meu irmão mais velho seguia os passos do meu pai, adorava carros, caminhões e cedo foi trabalhar, enquanto optamos por estudar mais. Para desespero do meu pai virei de “esquerda” que para ele era sinônimo de agitador, comunista, vermelho, risos, acho que até de comedor de criancinhas, engraçado que hoje meu velho e eu damos risadas destas brigas homéricas, sem ressentimento algum.

Quando passei a me dedicar integralmente à causa, foi um rebu em casa, pai não aceitava, e a doce mãe, muitas vezes, secretamente, me ajudava com algum dinheiro para que sobrevivesse o dia todo fora (naquela época não existia dinheiro nas entidades estudantis, era dia com fome mesmo). Morava distante da Escola Técnica e tinha muitos compromissos no movimento, tornei-me o primeiro Presidente do Grêmio Livre pós-ditadura, aquilo era um assombro para aquela instituição, liberal, mas muito controlada, cheia de agentes do SNI.

Jamais esqueço quando assumi a presidência, aquela senhora chorando emocionada pelo meu feito. Várias vezes corri riscos de ser preso, ou sofrer violência policial em greves estudantis e de trabalhadores que nós apoiávamos, ela sempre rezando, pedindo para que me cuidasse.  Depois quando fui para UMES, derrotamos o PC do B, uma guerra, depois de greves estudantis gigantescas em Fortaleza que nós ajudamos a organizar.

Minha mãe passou a votar na esquerda muito por minha influência, todos os irmãos já votavam na esquerda, mas ela assumiu de forma mais forte, apaixonada, comemorando as vitórias de Lula, foi à posse dele em 2006, ficou emocionada quando esteve perto dele, mais ainda quando mandou presente para Marisa e esta lhe respondeu por carta.

Sofreu horrores nesta campanha da Dilma, me ligava aflita querendo saber como estavam às coisas, se tinha perigo, o que ela poderia fazer.  Assistia aos debates, ficava preocupada, vibrava com cada pesquisa, quase matou meu pai com a ansiedade dos dias finais, ele pedia que eu a acalmasse. Mas morreu de chorar com a dupla vitória: Dilma Presidente e Tasso fora do senado.

Minha mãe sairá do interior do Ceará, ela mora perto de Jericoacoara e vai para fortaleza, pegará vôo de madrugada, sozinha, para ir à posse de Dilma, lhe perguntei se valia a pena, deixar o pai e os meus irmãos na noite do ano novo, ela disse: “quero fazer história de novo e na minha idade(ela tem 68 anos), ver uma mulher presidente não tem preço que pague”, me convenceu.