quinta-feira, 14 de abril de 2011

Crônicas do Japão II: Kashiwa e Comida

Conhecendo a área


(Kashiwa Station)

Aqui estamos em Kashiwa Cho(cidade) em Chiba Ken(Província) o hotel SunGarden fica uma quadra da estação central de trem de Kashiwa (Kashiwa Station Map ) que fica sob uma praça grande com 3 shopping centers, o mais chique é o Takashimaya, tem também o Sogo e o Vat no lado oposto da entrada principal.

Na andança noturna descobri que o Takashimaya tem um relógio tipo um cuco grande que a noite sai personagens nas horas cheias ao som da música do Silvio Santos (para ser feliz é preciso ser...) pronto me senti em casa, afinal era domingo e o indefectível Silvio dava o ar de sua graça. (várias vezes chorei de saudade ouvindo a música, tão familiar)


(Relógio Cuco do Takashimaya)

Olhei as vitrines do belíssimo Takashimaya e vejo bolsa da Prada, Gucci, como não estava ainda familiarizado com preço e notações da moeda (Yene), além do fuso horário maluco, não percebi o valor delas, dias depois me dei conta do valor 750.000 Yenes (15 mil reais), quase caí para trás. Num dos andares tinha uma padoca(padaria chique) dava água na boca os doces, mas o preço dói na barriga. Num outro andar tinha um mini-mercado de frutas, verduras, leite, queijos etc. numa embalagem bem trabalhada dois pequenos papaias, preço 9000 Yene (180 reais), pensei seriam de ouro? Pensei caramba não vou comprar nada aqui.

Numa rua paralela logo achamos mais uma coisa que lembraria o Brasil, o Supamaka (supermercado) Ito-Yokado, o símbolo dele era duas pombas de lado parecida com o da Igreja Universal, bem nem preciso dizer que sempre falávamos: vamos passar no Supermercado do Edir Macedo.


Rapidamente descobrimos que cada loja/supermercado/restaurante fechava apenas um dia na semana, aleatório, o do Edir era dia de terça. Além disto, ele tinha uma coisa legal: hora do “pobre”, mais ou menos depois das 19:30 tudo que era perecível era vendido com grandes descontos, quase uma xepa.

Comer – um trauma e sempre caro



I - Café da Manhã





(café da manhã oriental)

No hotel o café da manhã era de dois tipos: Ocidental e Oriental – ambos custavam 25 reais e não era incluído na diária do hotel, surpresa para lá de desagradável, a diária do hotel custava uns 250 reais, mesmo morando lá não havia desconto, nem café incluído, canais de TV a cabo, tudo era a parte. O Café Oriental era uma refeição japonesa, arroz, missoshiro, conservas e peixe cozido, perfeito para um café da manhã! Quanto ao Café Ocidental era servido uma xícara café ralo que você via o fundo dela, um tablete de leite (10 ml) para misturar, mais parecia um creme de leite, uma fatia de “english Bread”, meio ovo mexido, uma fatia de laranja, dois cubinhos de melão, duas bolachas, era TUDO isto, ok tomei apenas no primeiro dia no hotel.

Passei a comprar mini caixa de leite (250 ml), e também achei Nescafé um tipo bem fino, chamado excella, fraco mais era café que você podia por mais. No quarto do hotel tinha uma “chapa” e um pequeno bule para fazer chá, esquentava o leite, o camareiro me xingava todo dia por esquentar leite nele. Comprava o pão de forma mais grosso, English Bread, que o Ito-Yokado vendia em pequenas porções, 2,4 ou 8 fatias, grande lástima não tinha pão francês. Coisa engraçada uma vez levei um belo pão, parecido de hot-dog, me empolguei comprei, quando mordi era recheado com feijão doce, morri...às vezes comprava um pão amanteigado no Takashimaya, quase 4 reais um pãozinho, mas era bom demais. Eventualmente tomava café numa lanchonete que fazia ovos, bacon, salsicha, não era muito bom, mas variava. Vendia queijos em fatias, mas cada fatia num plástico, hoje a polenguinho vende aqui, aquilo era novidade para mim.

II - Bentô – Almoço/Jantar



Almoço era sempre um problema, no escritório eles tinham um fornecedor de bentô, uma espécie de marmita, preço baixo, mas de gosto para lá de duvidoso, exceto o Gohan(arroz japonês), tudo vinha servido gelado, meia asinha de frango, um minúsculo pedaço de peixe, umas conservas de embrulhar o estômago e a parte pior, os croquetes de não sei o quê.

Primeiras semanas foram duras para almoçar, passava mal só de pensar o que viria no almoço, mas com o tempo descobri um restaurante italiano, bem pequeno, perto da empresa, salvou a pátria. A comida não era lá grandes coisas, mas parecia espetacular na frente do bentô. Preço era 3 ou 4 vezes mais caro. Nós tínhamos uma meta semanal, gastar muito pouco para poder viajar todo fim de semana, passagens de trem são muito caras, depois detalho isto, então melhor economizar de segunda a sexta.

No Jantar muitas vezes íamos a outro restaurante italiano próximo ao hotel, Capricciosa, muito macarrão com tuna(atum), fora que deixamos os garçons loucos, pois íamos vários brasileiros e lá não juntava mesas, configuração de 4 por mesa, aí sentávamos próximos e juntávamos, eles tremiam, damê, damê(não pode)...depois de um mês eles desistiram, quando chegávamos eles já vinham rindo e sabiam que as mesas seriam “desarrumadas” por nós. No fundo eles achavam aquele jeito bagunçado engraçado.

Eu era tão viciado neste restaurante que uma vez estávamos em Kyoto e procurando restaurante para jantar, andamos numa larga avenida que de repente se estreita e vira um beco com casas antigas, nada de ter restaurante ocidental, vimos uma placa em romangi(sem caractere japonês) fomos lá, bingo era um Capricciosa (Capricciosa Kyoto ), os caras que estavam comigo não acreditaram, até aqui você vai comer nele, risos, mera e boa coincidência.


Muito tempo depois descobrimos o restaurante do Careca, ex-jogador da seleção, que ainda jogava lá no Kashiwa Reisol, também jogava o Edilson, capetinha e Wagner Mancini. Algumas vezes encontrei-os no Capricciosa. O restaurante do Careca servia um PF brasileiro com carne, feijão tinha até garaná(Guaraná Antártica ) aquilo era um sonho, uns 100 reais, mas de vez em quando valia a pena ir. Assim como a churrascaria Barbacoa em Tókio que tinha um "rodízio" de 6 tipos de carne e uma hora e meia para você comer, servido por garçons brasileiros, um sonho.

PS: Alertado pela Marinilda Carvalho, no Japão tem comida de todo tipo e de todos os lugares do mundo, mas como fomos lá a trabalho e economizávamos o máximo possível para poder viajar nos fins de semana, comíamos o que o trabalhador comum come normalmente.

Crônicas do Japão I: A viagem


(Monte Fuji - ou como dizem Fuji San )

Vou publicar algumas memórias sobre os meses que morei no Japão, entre Junho e Novembro de 1996, se não tiver preguiça vou "scanear" fotos dos lugares, tenho cerca de 700 fotos, naquela época ainda não existia máquina digital, mas fundamentalmente vou falar das minhas impressões sobre a terra do sol nascente. Incentivado pela minha amiga Cilmara Bedaque, que se diz completamente apaixonado pelo Japão e que noutra encarnação nasceu samurai, resolvi começar aos poucos estas crônicas. Texto inicial é como é que fui parar no Japão

A viagem



(Tori de Miyajima - vizinho a Hiroshima - lindo demais)

Era uma brincadeira de escritório, por volta do inicio de maio de 1996, quem queria ir passar uma temporada no Japão? Eu tinha acabado de chegar ao trabalho e, logo, disse claro que eu iria afinal com quase 7 anos de trabalho numa empresa japonesa tinha muita curiosidades de lá, além do que a convivência com a cultura nipônica acabamos por incorporar algo deles, algumas palavras(palavrões né?), gosto pela rica cozinha japonesa, até valores de vida e trabalho .

Meu amigo Renato, pega liga para o nosso chefe e diz que eu topava a ida ao Japão, na hora achei que ele estivesse fingindo falar ao fone. Meia hora depois o chefe me liga e pergunta: “Você quer mesmo ir ao treinamento no Japão?” – gelei, mas respondi que sim.

Um mês depois, eles tinham providenciado passaporte, visto japonês, passagens, um curso básico de sobrevivência de japonês. Numa sexta em 15 de Junho estava espantado entrando num avião da Varig rumo a Los Angeles e de lá para Narita, Aeroporto Internacional de Tóquio. 24 horas de uma longa viagem, cheio de dúvidas e medos.


(Narita Aeroporto - 66 km de Tókio)

O primeiro impacto ao desembarcar em Narita é a grandiosidade do Aeroporto, as longas filas da imigração, as perguntas são no inglês bem japonês, ou seja, você não entende quase nada, exceto as perguntas de praxe sobre: drogas, comidas, bebidas e surpresa... Material pornográfico, proibido, por exemplo, de entrar com uma “inocente” Playboy que tenha nu frontal, lá o nu tem um “tapa-sexo”, chamado "Mosaic", inclusive em filmes pornôs.

As linhas de trem e metrô que servem aos usuários chegam ao aeroporto, como estávamos com muita bagagem pegamos um taxi, todos Toyota corolla,  automático novos, o motorista de paletó, gravata e luva. Apesar do aeroporto ficar a mais ou menos 45 km de Kashiwa, na província de Chiba, pegamos umas duas autopistas com 3 pedágios. Incríveis 200 dólares o preço da corrida de taxi. É a senha pra saber logo de cara que se trata de um país muito caro.


(Linhas de trens (JR - Japan Rail) Aeroporto de Narita)

Chegamos num domingo umas 13 horas no aeroporto, até entrarmos no hotel era por volta das 17 horas, fome, cansaço e muita curiosidade. Outra coisa estranha, não era comum no Brasil em 1996, todo comércio aberto, facilitou de alguma maneira a saída para conhecer a área que iríamos habitar nos próximo seis meses. Dormi nem pensar, pois estávamos com o fuso do Brasil, tínhamos que esperar ficar tarde e tentar dormir e se adaptar o mais rápido possível, pois na segunda já teríamos trabalho e as “boas” vindas.