segunda-feira, 2 de maio de 2011

Obama x Osama: Como no velho oeste


Obama matou Osama, não é um mero trocadilho de B e S dos nomes, mas algo mais grave e pior, o Prêmio Nobel da Paz anuncia com galhardia que matou o inimigo público americano número 1, assim cheio de satisfação, nem um pesar ou qualquer lamentação. As congratulações aos envolvidos na macabra operação de caça e morte, com ordem expressa de não deixá-lo vivo, julgar para que mesmo?

Mas é preciso rebobinar o filme e melhor localizar a questão cinematográfica, pois como de costume os roteiros estão prontos, para nova saga do herói que mata, não julga, e não se preocupa com a História, apenas com a Estória que irá contar.

Obama I: A vitória do inesperado

Coincidência ou não, mas o motor da chegada de Obama a Casa Branca foi o desastre Bush Jr, sem isto, ouso afirmar, jamais um negro, com família com vínculos ao islã, lá chegaria. Além da economia em frangalhos Bush Jr promoveu a caça fracassada a Osama, item sensível para o americano médio, seu poder no mundo estava em baixa, um reles fanático consegue se esconder das mais modernas máquinas tecnológicas do mundo.

Obama era o outsider da máquina do Partido Democrata, amplamente  controlada pelos Clintons, e sua favorita Hillary a indicação do Partido seria mera formalidade. Porém Obama surge avassalador e numa hipótese pouco cogitada, seis meses antes, leva um negro à presidência. Vitória de um outsider total.

Obama fez um acordo dentro do partido em que entrega a Secretaria de Estado, ministério mais importante americano, a sua adversária Hillary. Enfrentando uma crise sem precedentes, mais ou menos dividiu seu Governo em dois: no front interno liderado por ele, tenta aprovar reformas na saúde e recompor a economia em frangalhos. No front externo entregue a Hillary e os falcões mais reacionários, como boa conhecedora da máquina de guerra, Hillary tem seu desempenho facilitada pelos crescentes conflitos advindo da ampla crise financeira mundial.

Assume a presidência naquela que é considerada a segunda maior grande depressão da história do capitalismo, o país mergulhado num atoleiro no Iraque e Afeganistão, com pouquíssimo espaço de manobra, uma herança mais do que MALDITA, sob desconfiança da elite reacionária, que aceitou a derrota na batalha, mas prolonga a guerra via mídia. Neste contexto dentro do próprio partido Democrata, Obama tem poucos aliados confiáveis, é obrigado a montar um ministério de composição com as alas conservadoras e ainda manter um presidente do FED comprometido ainda com o Neoliberalismo.

Estes fatores combinados, recessão violenta, desemprego, sensação de decadência duas guerras no front, uma mídia hostil, deixam pouco, ou quase nada, espaço de manobra para Obama se movimentar.



Economia de Obama : O mais do mesmo


Houve uma piora sensível nas condições políticas e de governabilidade, acentuada agora pela imensa derrota nas eleições congressuais bianuais, com a perda da maioria na Câmara Federal e redução na maioria do Senado federal.

Os grandes bancos receberam pesados recursos do tesouro, sendo salvos os banqueiros, os megainvestidores, mas nada sobrou para os endividados em hipotecas, passou a idéia de que é melhor salvar os ricos, sem se preocupar com quem realmente perdeu tudo.

Desde o início da crise iniciada em Setembro de 2008, mais precisamente a apresentação da conta salgada do resgate dos bancos e corporações feitas pelos planos de Bush I e II, e os três ajustes de Obama nos Estados Unidos. Apenas Bush injetou no sistema bancário americano combalido cerca de 1,5 Trilhões de Dólares que foi reforçado por Obama ainda na transição e nos seguidos ajustes de 2009, 2010 e o último agora de 2011. A dívida pública americana saltou de 8,7 Trilhões (62% do PIB) em 2007 para 15,2 Trilhões (99,5% do PIB) em 2010.

Como conseqüência mais visível as 400 maiores fortunas nos EUA têm mais dinheiro do que 155 milhões de americanos, uma brutal concentração de renda típica de “terceiro mundo”, que se aprofundou mais no governo Obama. Depois da “crise” em recente pesquisa foi constatada que aumentou o número de americanos com mais de US$ 1 milhão em investimentos, situação contraditória numa crise sem precedentes.

Mas a outra ponta da economia há aumento no índice de desemprego e mais ainda o aumento drástico da população que recebe os Food Stamps (programa equivalente à Bolsa Família, no final tem um link sobre o programa) de Fevereiro de 2010 a Outubro passou de 39 milhões 42,4 milhões de pessoas (quase 10%)

Neste ambiente Obama jogou todo peso para aprovar uma espécie de SUS plano de saúde público, pois cerca de 45 milhões de americanos não tinham nenhuma proteção hospitalar e assistência médica (número coincidente com participantes do Food Stamps). O custo do seguro saúde é muito alto e devido à precarização do emprego e mesmo subemprego impedia que esta faixa da população tivesse atendimento médico.

Porém o custo político foi desastroso, Obama foi pintado como “Bolchevique” Socialista que quer acabar com a livre iniciativa, a dura batalha no congresso foi divorciada da sociedade, um movimento Proto-Fascista, Tea Party, cresceu de forma assustadora, elegeu inclusive representantes no novo congresso.

Política externa : Obama Bush Jr


A dura visão do Departamento de Estado, dominado pela Direita dos democratas, escolhe seus “inimigos”, o principal deles o Irã, mesmo com o refluxo no Iraque a aventura no oriente médio ainda é prioritária, atende a demanda da indústria bélica, do setor petrolífero, do militares e dos falcões de Israel.

Parece que nada mudou desde Bush Jr, a Sra. Clinton continua sua escalada de medo e ódio pelo mundo, Obama quase nada se diferencia, sua submissão é total ao que Hillary faz e desfaz.

Neste contexto cada dia mais a China crescem como pólo aglutinador de forças econômicas e alternativa de investimentos, em particular no chamado 3º mundo. Com 5 Trilhões de reservas cambiais, a China hoje é o principal credor americano, boa parte do destino do Dólar está nas mãos dos chineses.

Esta sensação de perda do poder hegemônico mundial é mais uma derrota do Governo Obama, a extrema dificuldade de dialogar com o mundo leva a um isolamento e o império apenas é reconhecido pelo poder militar.

Mesmo em relação ao G20, Obama/Hillary nada fez para se aproximar e quebrar a influência chinesa é inconcebível que Obama não tenha visitado o Brasil, o articulador mais dinâmico do G20. Este desprezo pelas relações diplomáticas torna a saída da crise americana mais distante ou em condições piores.

A recente desvalorização do Dólar apenas reforça a visão equivocada de G2 (EUA-China) fechando os olhos para o resto do mundo. Ao comprar a guerra cambial com a China, Obama fecha às portas para qualquer dialogo com o restante do G20, em particular com Brasil, Índia, Rússia e África do Sul



Obama II: Sem enfrentamento interno e o fator morte Osama

O surgimento de um movimento de extrema-direita nos EUA é reflexo da falta de combatividade de Obama, a complexa situação da economia, o empobrecimento crescente vistos a olhos nus, fez surgir no seio da classe média americana a Hybris do ódio e ressentimento.

Consubstanciado no caricato Tea Party algo parecido com típicos movimentos proto-fascistas que surgem na ebulição de grandes crises, em sínteses são ultra liberais contra governo, o de Obama em particular, contra impostos, saúde publica e que querem resgatar o “sonho americano”. No fundo não passa de mais um pesadelo.

Aqui mais uma vez houve a maior falha de Obama, ele não tomou para si às rédeas de seu governo, foi bombardeado internamente pelos Clintons,Nancy Pelosi e outros falcões democratas. Do lado de fora o combalido Partido Republicano ressurgiu mais forte e mais à direita, galvanizando a letargia e porque não a covardia do Governo Obama de enfrentar seus inimigos.

Logo no seu relançamento Obama prometeu cortar 4 trilhões da dívida em 4 anos e reduzir o déficit público para 3,5% até 2016, como bem definiu Clinton em 1994 na luta contra Bush Pai: “é a economia estúpido”  que explica a vitória ou derrota de um candidato presidente, assim será mais uma vez com Obama.


A morte e a "morte" de Osama



A grande jogada de marketing que traria algo espetacular e a salvação da lavoura,  veio com o anuncio da morte de Osama, toda mídia mundial saudou o evento, como algo especial, sem nenhuma crítica ao fato de ter sido aparentemente dominado, sem que fosse preciso executá-lo, parece apenas um mero detalhe.

Hoje se ver pelas imagens que os americanos estão jubilosos com a morte de Osama, se sentem “vingados”, mas também foi lhes negado o “troféu” como Bush Jr fez ao matar Saddam. A se confirmar que jogaram os restos mortais de Osama ao mar, além de um ato estúpido e cruel, cria mais animosidade e reforça a tese que os EUA não respeitam o estado de direito, muito menos a democracia.

Mas para máquina de guerra não pode parar, há 100 mil soldados no Afeganistão o que farão agora? O inimigo número 1 está morto o que fazer lá? Deslocamento para Líbia? É mais um capítulo desta dura realidade americana, sustentar o motor de sua economia através da morte e do medo.