terça-feira, 15 de março de 2011

Antígone - Liberdade ou Morte

“O tempo que terei para agradar aos mortos, é bem mais longo do que consagrado aos vivos...hei-de jazer eternamente!”


Tema: Tragédia, Autoritarismo e Heroísmo



Resumo: Antígone guiou seu pai Édipo, que furara os olhos, por longos anos no exílio até seu descanso final em Colono. Ao voltar para Tebas e ficar noiva de seu primo Hêmon, seus irmãos Polinice e Etéocles lutam pelo poder.

Passado Anterior

Jocasta ao saber que casara como próprio filho, Édipo, se suicida com os lençóis do leito pecaminoso. Édipo ao entrar nos aposentos e ver que a esposa/mãe se matara pega um broche que prende a roupa fura seus olhos para punir seus pecados.

Édipo vai para o Exílio em Colono, cidade próxima à Atenas, seus passo são guiados desde Tebas por sua filha Antígone, que acompanhará suas ultimas reflexões, vendo que a maldição que o pai sofreu, não sendo aceito em nenhum lugar sagrado. Cego e doente é condenado a viver nas proximidades de Atenas.


O Livro




Creonte, o irmão de Jocasta, assume o Trono de Tebas, enquanto os irmãos Polinice e Etéocles crescem para no futuro decidir que será o rei. Já adulto os irmão decidem que se revezaram anualmente no trono, primeiro Etéocles depois a vez de Polinice .

Entretanto Etéocles não cede a vez ao irmão, este busca exílio em Argos, sendo recebido por Adrasto, rei da cidade, que dará uma de suas filhas em casamento. Polinice , com o apoio das tropas do sogro, decide reivindicar o trono de Tebas. Cerca a cidade fazem um acordo de um duelo singular entre os irmãos o vencedor ficará com o trono. Porém, mais uma vez a maldição dos Labdacida( Édipo Rei - ou a maldição dos Labdacidas ) acontece e ambos morrem.

Creonte mais uma vez assume o trono e determina que apenas Etéocles receba as exéquias mortais, enquanto Polinice  seja condenado a ter seu corpo devorado pelas aves de rapina na praia (o maior castigo ao morto).

Antígone, que voltara do exílio após a morte de Édipo, não aceita a decisão de Creonte, tenta convencer Ismênia sua irmã, a não ajudá-la, com medo ela recusa-se. Antígone não se intimida e escondida durante a noite, faz as exéquias do irmão, enterrando-o com as honras necessárias.

Creonte ao saber que o corpo de Polinice  foi enterrado resolveu punir o culpado por desobedecer à ordem e será condenado à morte. Logo descobre que foi Antígone, sua sobrinha e futura nora, ela era noiva de Hêmon filho mais velho de Creonte. Como havia decretada manda que os guardas levem Antígone para morrer de fome e sede sob um conjunto de rochas fora da cidade.

A notícia do castigo a jovem princesa se espalha e uma revolta na cidade se estabelece. Creonte com receio da repercussão de seu ato, manda chamar Tirésias, o adivinho, pra saber o que os deuses acham de sua decisão. Este, ao chegar, diz que o crime de Creonte será purgado com sangue de sua própria família se ele não reparar a tempo o erro cometido.

Creonte temeroso pela previsão de Tirésias manda buscar Antígone, porém, ao chegar na rocha os guardas encontram-na morta junto a ela Hêmon, ambos se suicidaram por não puderem casar. Por fim Eurídice, esposa de Creonte, também se mata.

Comentário sobre o Livro


A maldição do Labdacida tem seu fechamento com as últimas vítimas dela: Antígone, Hêmon e Eurídice. A peça Antígone é uma das mais significativas das que chegaram até nossos dias, pois traz a síntese das tragédias abertas por Édipo Rei e sua antítese representada por Édipo em Colono.

Antígone virou o símbolo da luta contra o despotismo dos governos autoritário, que vai além da Grécia, na época dirigida pelos tiranos. Toda vez que há um governo déspota a peça se agiganta, se impõe nesta luta pela liberdade, ainda que a morte seja o castigo.

Há várias leituras possíveis, como tratamos na analise de Édipo Rei, interessante um pequeno comentário feito por Junito se Souza Brandão que une analise psicológica e política, muito bem localizada, no tema central do livro:

“Do ponto de vista simbólico, todavia, a cegueira que Édipo se infligiu possui um sentido mais profundo. As trevas externas geram a luz interna. A αναγνώριση (anagnórisis), "a ação de reconhecer" e de reconhecer-se começa efetivamente a existir quando se deixa de olhar de fora para dentro e se adquire a visão de dentro para fora. Mergulhado externamente nas trevas, o herói se encontrou. Se Édipo, porque sabia, conquistou o poder, a hipertrofia desse mesmo poder sufocou-lhe o saber. Sua cegueira estabeleceu em definitivo a ruptura entre o saber e o poder: cego, o herói agora sabe, mas não pode. Não mais, como deixa claro Foucault, estamos na época dos týrannoi, dos tiranos, mas na era de Péricles, no século da democracia, que não sabe, mas pode. Tanto que em Édipo Rei os únicos a saber, além dos deuses e os adivinhos, são os humildes, os pastores, que não podem, mas sabem. Por isso mesmo, em sua tragédia Antígona, que é um confronto entre a consciência individual e o despotismo sofistico, Sófocles mostrou com muita clareza que a característica básica de sua personagem central, Antígona, é o direito de opor uma verdade sem poder a um poder sem verdade.