quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Teogonia x Tecnologia

Deuses Primevos



A grande Teogonia Grega pode ser grosso modo, dividida em dois momentos bastante distintos a fase um, que tem a haver com a criação propriamente dita: Caos, Terra (de amplos seios), Tártaro e Eros, são deuses primevos, vinculados a idéia de forças da natureza, nada elaborado, crus, com a força bruta e sem grandes elaborações estéticas e intelectuais. Ainda desta primeira geração temos, Cronos, os Titãs, o Mar, a Noite e a mais elaborada das criações desta fase, Afrodite. A segunda fase é a consolidação dos novos deuses, que conquistaram o Olimpo e farão de Zeus, seu soberano, aqui esta nova geração luta contra a anterior e domina a "Natureza", e já constrói para si morada e têm um modo de vida já mais elaborado, intelectualmente superior e esteticamente lançará bases de toda cultura ocidental. Também aqui teremos duas fases internas bem definidas do ponto de vista estético e intelectual: a fase Apolínea e a Dionisíaca.



Apolo




Obviamente que cada "tempo" corresponde ao grau de desenvolvimento do mundo grego, a geração primeira são as fabulosas criações do homem que se fixa na terra e tenta entender os fenômenos a ela associados: as estações do ano, a terra "grávida", a época da colheita, as lutas ferozes com animais selvagens, a luta pela vida, ou seja, os sentimentos mais elementares se refletem diretamente nos deuses por eles cultivados. A segunda geração vem justamente do domínio da natureza hostil e vencida esta batalha novos desejos objetivos e subjetivos surgem, o tempo outrora gasto para fugir dos males que os atingia, hoje se gastará com coisas mais criativas, como: construção de cidades, esgotos, sistemas de água, armas de guerras mais sofisticadas, a ciência mais elaborada, a experimentação, o cálculo matemático, a nomeação das estrelas, a construção de casas melhores e maiores, os templos, as belíssimas estátuas, vasos, os códigos rudes e leis e justiça, os governos ditatoriais, esta é a fase Apolínea, do Deus Apolo, o grande engenheiro, arquiteto, matemático, o moralista e justiceiro autoritário, a fase do pensamento exato e calculado.

Dionísio




Entramos enfim no apogeu grego com o advento do "ócio criativo", todas as conquistas do período Apolíneo se refletirão no surgimento da alta cultura, que é consolidada com a fase Dionisíaca, que terá na filosofia, no pensamento elaborado, no Teatro trágico e orgiástico, o grande Ditirambo, e seus mistérios, sua cártase, seu êxtase, o novo padrão de cultura e liberdade. Na fase Dionisíaca já não temos o poder das curvas e formas exatas, mas a ampla liberdade de criar esteticamente livre, a adoção da democracia, dos códigos de leis mais justos, dos debates públicos é que muitos chamam da cultura Dionísio, o Deus da Festa, do mel, vinho, e líquidos. Com Dioniso teremos a consolidação do poder da imagem, da linguagem, da beleza, da comunicação de massa, o apogeu da cultura grega, a preocupação de formar ideologia e sem dúvida até hoje bebemos daquela infindável fonte.

Educação Formal


Alguns devem ter desistido de ler, o que é uma pena, mas àqueles que perseveraram, vem o elo com o presente e o futuro, lógico no meu ponto de vista, tudo que escrevi acima é uma reflexão e uma metáfora que construi para simbolizar o que somos hoje, nós que trabalhamos com engenharia e tecnologia. Tudo o que não sabíamos e construímos no pós-guerra (o Caos, a Terra, o Tártaro e Eros), passando pelo surgimento da moderna Engenharia e Ciência (Apolo) vem desembocar no hoje livre, democrático, criativo, linguagem cifrada (Marketing e Inovação)

Será que nós, que fomos educados na cultura Apolínea, já demos nossa virada? Nossas cabeças estão prontas a aceitar a nova estética? Será que nosso desemprego ou subemprego é por que não nos adaptamos aos novos tempos? Sem dúvida não é uma questão de idade, basta lembrar que Eurípedes tinha mais de 40 anos quando escreveu "As Bacantes", e é nela que temos o principal rito dionisíaco, ou seja, os fundamentos da modernidade grega.

Para mim, nunca tivemos tantas chances de fazer tanto como agora, parece louco o que estou escrevendo, mas é que o resultado de toda esta contradição que vivemos (desemprego x Inovação, Marketing x Engenharia) é um profundo processo criativo, informativo, qualidade de vida, estético. Nunca na história tivemos tantas oportunidades de construirmos um mundo melhor como agora, o que nos falta? Começar a fazer… A única coisa que devemos consolidar neste momento é nosso compromisso com a ética (nos negócios, na política, na vida privada), a solidariedade (construir um mundo melhor para si e para todos) e igualdade (para ser justo temos que ter direitos iguais e acesso ao direito igualmente). Com este três valores, com a gama de informação, com nossa inteligência vamos mudar o mundo, primeiro mudando nossa vida, estudando, debatendo, ouvindo, ensinando e aprendendo.

Análise de Ilíada/Odisséia - Visão Política

Depois de publicar os apontamentos dos meus resumos da Ilíada e da Odisséia sou instado a tentar analisar o significado destas obras. Aqui começa a grande dificuldade: a multiplicidade de visões que as obras apontam. Tentarei cercar , didaticamente em 3 visões, que se interpolam: Política, Educação e Psicologia.

A visão de Educação, está diretamente ligada a monumental obra de Werner Jaeger, a Paidéia. A visão Psicológica meu guia será o Junguiano Junito de Souza Brandão e suas obras sobre Mitologia Grega e Romana. As observações políticas fazem parte de uma junção de leitura e estudos pessoais que tentam extrair lições próprias destes livros.

A dimensão Política


Cidades Estados em busca de Estado Nacional

As cidades gregas, denomição genérica dada aos povos que habitavam a região dos balcãs, em particular sua parte sul, se constituiu das várias migrações tanto européias quanto asiáticas. Vários povos formaram estas cidades e trouxeram seus valores e culturas, mas não havia uma identidade "nacional" até aproximadamente o Século IX  e VIII A.C.

Estas cidades formadas por tribos de genes comuns, com economia baseada na agropecuária com mão de obra escrava, conquistados em pequenas guerras regionais ou tribais, suas instituições políticas vão se sofisticar paulatinamente nos séculos seguinte e serão referência de exercício de poder democrático.

Com o predomínio dos Dórios começa lentamente a se ter um maior e mais intenso contato entre estas cidades estados, sem dúvida o comércio e trocas entre elas ajudou a aproxima-las, neste aspecto a religião com seus deuses comuns ajudam a formar uma identidade comum. Mesmo assim elas permanecem "autônomas".

A Ilíada nos traz o pano de fundo da Guerra Internacional os povos "gregos" em coalizão invadem a Capadócia. Esta união nacional é germe do estado grego confederado, os chefes locais unem-se aparentemente para defender um dos seus que havia sido ultrajado pelo estrangeiro que roubara-lhe a esposa(rapto ou sedução de Helena por Páris, príncipe troiano).

Cada povo representado na armada grega tem seu príncipe como instância máxima de poder decisório. Os doze principais reunidos têm em Agamenon seu comandante em chefe, mesmo ele não tem todo o poder para si as principais decisões são amplamente decididas pelo colegiado dos príncipes.

A questão da guerra, muito além do rapto é a tentativa de formatar o Pan-helenismo o estado nacional grego, o combate é a forma mais rápida e eficaz de dar unidade a esta idéia. O próprio funcionamento dos órgãos decisórios também demonstra a futura formação política do estado grego.

A poesia de Ilíada e Odisséia está carregada de ideologia política, de leis, códigos, que escritas ou não serão seguidos por todos, a coerção, o caráter obrigatório que elas assumiram. Estas cidades estados, com suas leis locais, vão se moldando ao "espírito grego nacional", as principais cidades, Atenas e Esparta darão a dinâmica político-militar ao estado grego.

Esta inovação marcará definitivamente a história ocidental, desta fonte original primeiro beberão os Romanos, quando da formação política do seu estado, que em muito ultrapassará o grego por seu caráter imperialista. Este caráter, se inspirará em Alexandre Magno, o Macedônio, que conquista a Grécia, e eu seu nome se expande ao Oriente, sem no entanto reter este império.

As instituições políticas, as assembléias, as leis de estado, a democracia é o legado grego para o ocidente. Todas estas questões estão presentes nas duas obras.