terça-feira, 26 de outubro de 2010

Análise de Ilíada/Odisséia – Visão Psicológica

I – Introdução



No fim do ano passado consegui de um fôlego só consegui passar, para este Blog,  velhos escritos sobre Grécia Antiga que fui anotando em minha leituras, Fiz um resumo geral da Ilíada e Odisséia com pequenos cometários sobre cada uma delas, depois me propus a uma análise destas obras com suas implicações: Política, Psicológica e Educação.

Escrever sobre temas tão complexos não é simples e rápido, algumas vezes também as respostas ao que escrevo não nos estimula a continuar. As precárias condições de produzir é um fator a mais, sempre quando vem a inspiração passo da cabeça ao texto de fôlego único, falta-me tempo, pois escrevo ou em casa ou no intervalo do trabalho(alguns sabem da guinada da minha vida, desde que minha filha mais velha adoeceu, o tempo ficou mais escasso), nestas condições raramente é possível fazer revisão de estilo ou de correção de frases e erros gramaticais(blog é aberto quem quiser ajudar na redação, sinta-se à vontade). Na verdade escrever depois da doença dela passou a ser uma maneira de me abstrair das dores pelas quais passo no dia a dia, mas não escrevo por amargura, apenas para que ela possa, um dia saber o que realmente penso, ou do que gosto.

Mas como promessa é dívida, tentarei escrever sob o aspecto psicológico destas grandes obras, meu guia será o mestre Junito de Souza Brandão e sua monumental obra “Mitologia Grega Vol I,II e III”. Para um melhor entendimento do que passarei a tratar será importante, para quem não leu ainda ler ou reler os posts neste blog:





II – A questão do Mito



Alguns conceitos fundamentais se impõem para uma melhor compreensão da força da Mitologia Grega e suas mais profundas análises implicações no homem. Dentre estes, o próprio conceito de Mito, consciência coletiva, arquétipos etc. Seguirei o mesmo caminho do mestre Junito de Souza Brandão e sua inclinação à Jung de visão dos mitos gregos.

Já no prefácio ao livro Mitologia Grego o Dr Carlos Byington nos coloca as seguintes questões sobre o tema:

“Através do conceito de arquétipo, C. G. Jung abriu para a Psicologia a possibilidade de perceber nos mitos diferentes caminhos simbólicos para a formação da Consciência Coletiva. Nesse sentido, todos os símbolos existentes numa cultura e atuantes nas suas instituições são marcos do grande caminho da humanidade das trevas para a luz, do inconsciente para o consciente. Estes símbolos são as crenças, os costumes, as leis, as obras de arte, o conhecimento científico, os esportes, as festas, todas as atividades, enfim, que formam a identidade cultural. Dentre estes símbolos, os mitos têm lugar de destaque devido à profundidade e abrangência com que funcionam no grande e difícil processo de formação da Consciência Coletiva. “



Acrescenta ainda:

“Todavia, os arquétipos são ainda mais do que a matriz que forma os símbolos para estruturar a Consciência. Eles são também a fonte que os realimenta. Por isso, os mitos, além de gerarem padrões de comportamento humano, para vivermos criativamente, permanecem através da história como marcos referenciais através dos quais a Consciência pode voltar às suas raízes para se revigorar.”

E finaliza relacionado sobre a importância da mitologia grega para Cultura ocidental:

“Existe ainda algo extraordinário no estudo da Mitologia Grega, para o que gostaria de motivar a atenção do leitor. Trata-se de compreender a razão pela qual a Cultura Ocidental se voltou tão intensamente para a Grécia durante o Renascimento, o que muitos têm compreendido como um retrocesso ao paganismo e um conseqüente desvirtuamento do Cristianismo. No entretanto, lado a lado com a intolerância da Inquisição e sua obra repressiva das variáveis míticas (heresias), percebemos, no Renascimento, a Consciência da fé cristã, não só com os símbolos da religião greco-romana e egípcia, como com toda a sorte de crenças, superstições e magia. Foi nesta convivência entre religião, alquimia, astrologia e superstição que nasceu o humanismo europeu, útero e berço da ciência moderna. Não vejo nisso um retrocesso do Cristianismo e sim um avanço. A árvore mítica Judaico-Cristã foi buscar em outras culturas o material imaginário necessário para implantar a transição patriarcal do Self Cultural e encontrou, na Mitologia Grega, uma fonte inesgotável de símbolos de convivência com as forças da natureza. O Ocidente reencontrou na Grécia não só uma cornucópia de mitos matriarcais, como também inúmeros padrões mitológicos de convivência destes símbolos matriarcais com os patriarcais. Estes ingredientes foram indispensáveis para os gênios do Renascimento constituírem a ciência moderna, a partir da busca da espiritualidade Judaico-Cristã, aplicada às forças da natureza.”



Mesmo na Grécia antiga o Mito passou por um intenso debate pela necessidade de “desmitizar” estes deuses pecadores, vingativos, incestuosos. As correntes filosóficas pré-socráticas usou  o Logos (razão) para “provar” que os deuses de Homero e Hesíodo não são realmente divindades, pois a idéia de Deus é algo mais sério: "Há um deus acima de todos os deuses e homens: nem sua forma nem seu pensamento se assemelham aos dos mortais" (Xenofanes).

O Mito ainda passou por um processo de “Dicotimização” que não admitia variação do mito, ele era único e qualquer outra interpretação era livre conceito do poeta, não correspondendo a “verdade”, começando assim um processo de filtro em relação ao Mito.

Noutra ponta houve a necessidade de “politização” do Mito, obrigando que  este tivesse como ponto de passagem por Atenas, que vivia a efervescência de ser a Cidade-Estado principal, os mitos acabavam tendo que prestar culto em Atenas, descaracterizando a verdadeira “desordem” natural da criação.

Esta depuração quer pelo racionalismo, ou por fonte única ou ainda política e por último pelo materialismo do Epicuro e Demócrito, quase levaram a Mitologia a extinguir-se como fonte original criativa e elevada da cultura helênica.

Porém dois movimentos surgidos na prórpia Grécia (Alegorismo e Evemerismo)  meio que “salvaram” o mito ou criaram uma capa de proteção para que chegasse até hoje e, em muito, fosse incorporado no Rito Cristão dominante ocidental.

Junito nos apresenta os dois movimentos:

Alegorismo

“Já que os mitos não eram mais compreendidos literalmente, buscavam-se neles as (hypónoiai), isto é, as suposições, as significações ocultas, os subentendidos. Foi isto que, a partir do século I p.C, se denominou alegoria, que significa, etimologicamente, "dizer outra coisa", ou seja, o desvio do sentido próprio para uma acepção translata, ou mais claramente: alegoria é "uma espécie de máscara aplicada pelo autor à idéia que se propõe explicar". Teágenes de Régio, já no século VI a.C, tentara fazer uma exegese da poesia homérica com base na (hypónoia), mas somente no século IV a.C. é que a alegoria descobriu que os nomes dos deuses representavam sobretudo fenômenos naturais.

Assim é que o estóico Crisipo reduziu a mitologia a postulados físicos ou éticos. Homero e Hesíodo estão "salvos"; "salva" está a poesia e a arte, que poderão continuar a beber na fonte inesgotável do mito, embora alegorizado



Evemerismo



"O filósofo alexandrino Evêmero publicou uma obra, de que nos restam alguns fragmentos, intitulada (Hierà Anagraphé), História Sagrada, que, com o mesmo título, foi traduzida para o latim pelo poeta Quinto Ênio (239-169 a.C.). Trata-se de uma espécie de romance sob forma de viagem filosófica, no qual afirma Evêmero haver descoberto a origem dos deuses. Estes eram antigos reis e heróis divinizados e seus mitos não passavam de reminiscências, por vezes confusas, de suas façanhas na terra.

O Evemerismo, por conseguinte, nada mais é do que a tentativa de explicar o processo de apoteose de homens ilustres. Embora teoricamente antípoda do alegorismo, o Evemerismo muito contribuiu também para "salvar" a mitologia, injetando-lhe uma dose de caráter "histórico" e humano. Afinal, os deuses não passavam de transposições, através da apoteose e de reminiscência, um tanto desordenada, das gestas de reis e de heróis primitivos, personagens autenticamente histórica"







III - Definição do que: Mito



Nos ensina Junito de Souza Brandão sobre o que é o mito:





“o mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais. Em outros termos, mito, consoante Mircea Eliade, é o relato de uma história verdadeira, ocorrida nos tempos dos princípio, illo tempôre, quando, com a interferência de entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o cosmo, ou tão-somente um fragmento, um monte, uma pedra, uma ilha, uma espécie animal ou vegetal, um comportamento humano. Mito é, pois, a narrativa de uma criação: conta-nos de que modo algo, que não era, começou a ser.



De outro lado, o mito é sempre uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo. Mito é, por conseguinte, a parole, a palavra "revelada", o dito.”

E por fim arremata:

“O mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente uma representação coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. E, na medida em que pretende explicar o mundo e o homem, isto é, a complexidade do real, o mito não pode ser lógico: ao revés, é ilógico e irracional. Abre-se como uma janela a todos os ventos; presta-se a todas as interpretações. Decifrar o mito é, pois, decifrar-se.”











IV - Homero e seus poemas: deuses, mitos



Numa visão bastante simplificada teríamos a Ilíada como à ida ao oriente, movimento de invasão a Ásia pelos Europa a Odisséia seria o retorno dos invasores com seus troféus de guerra.

Grosso modo, teríamos na visão de Junito sobre o significado das obras, com a qual concordo:

Odisséia

A Odisséia, com os dez anos de peregrinação de Odysseús, o nosso Ulisses, em seu regresso ao lar, em Ítaca, após a destruição de Tróia, é bem diferente, do ponto de vista "histórico", da Ilíada



Ulisses teria sido o mascaramento da busca do estanho ao norte da Etrúria, com o descobrimento das rotas marítimas do Ocidente. Tratar-se-ia, desse modo, de uma genial ficção, embora assentada em esparsos fundamentos históricos, porque, no fundo, a Odisséia é o conto do nóstos, do retorno do esposo, da grande nostalgia de Ulisses. Este seria o ancestral dos velhos marinheiros, que haviam, heroicamente, explorado o mar desconhecido, cujas fábulas eram moeda corrente em todos os portos, do Oriente ao Ocidente: monstros, gigantes, ilhas flutuantes, ervas milagrosas, feiticeiras, ninfas, sereias e Ciclopes. . .”

Ilíada



“A Ilíada, ao revés, descreve um fato histórico, se bem que revestido de um engalanado maravilhoso poético. Na expressão, talvez um pouco "realista" de Page, o que o poema focaliza "são os próprios episódios do cerco de Ílion e ninguém pode lê-lo sem sentir que se trata, fundamentalmente, de um poema histórico. Os pormenores podem ser fictícios, mas a essência e as personagens, ao menos as principais, são reais. Os próprios gregos tinham isso como certo. Não punham em dúvida que houve uma Guerra de Tróia e existiram, na verdade, pessoas como Príamo e Heitor, Aquiles e Ájax, que, de um modo ou de outro, fizeram o que Homero lhes atribui. A civilização material e o pano-de-fundo político-social, se bem que não se assemelhem a coisa alguma conhecida ou lembrada nos períodos históricos, eram considerados pelos gregos como um painel real da Grécia da época micênica, aproximadamente 1.200 a.C, quando aconteceu o cerco de Tróia"

Ele ainda caracteriza a sociedade descrita por Homero:

“Homero fundiu estes três momentos culturais, mas não existe na Ilíada e na Odisséia nem evocação escrupulosa do passado, nem descrição exata do presente, mas a visão de um mundo ideal, composto de um passado micênico da Europa e de um presente homérico e asiático, amalgamados numa harmonia, que é realidade sem ser realidade, quer dizer, poesia e nada mais. Com efeito, os dois poemas homéricos, recheados de elementos religiosos, não são um código de vida, nem um cânon de fé. Trata-se de um documento religioso incomparável, mas imperfeito, porque omite; e parcial, mercê da liberdade com que são tratados os deuses: Zeus, Hera, Apoio, Atená. .. não passam, muitas vezes, de vagas reminiscências daquilo que realmente foram...



Para elas celebra os jogos, onde o vigor se conjuga com a nobreza. O preito da força e da beleza física, símbolos do herói, contraiu, desde Homero, núpcias indissolúveis com as qualidades do espírito: o kalón, o belo, e o agathón, o bom, eis aí a síntese de uma visão humanística que remonta à Ilíada e à Odisséia. Pois bem, o mundo dos deuses é a projeção dessa sociedade heróica e aristocrática. À autoridade de Agamêmnon e, não raro, à sua prepotência, correspondem a soberania e o despotismo de Zeus, assim como às revoltas dos heróis contra as arbitrariedades do "senhor" e rei de Micenas corre paralelo a manifestação de independência dos imortais contra a tirania do "senhor" e rei do Olimpo”







Junito faz painel dos deuses homéricos:

Zeus Deus Pai


"Zeus, sempre se começa por ele, é o deus indo-europeu, olímpico, patriarcal por excelência. Age ou deveria agir como árbitro, sobretudo na Ilíada, mas sua atuação é um pêndulo: oscila entre o estatuído pela Moîra(Destino-grifo meu), com a qual, por vezes, parece confundir-se, e suas preferências pessoais. Os Aqueus destruirão Tróia, ele o sabe, mas retarda quanto pode a ruína da cidadela de Príamo, porque prometera a Tétis "a vitória" dos Troianos, até que se dessem cabais satisfações à timé ofendida de Aquiles. Para cumprir seu desígnio é capaz de tudo: da mentira às ameaças mais contundentes. Na prova de força que dá no canto VIII, 11-27, quando proíbe os deuses de ajudarem no combate a Gregos e Troianos, ameaça lançar os recalcitrantes nas trevas eternas do Tártaro e afirma categoricamente que seu poder e força não maiores que a soma da força e do poder de todos os imortais reunidos! E desafia-os para uma competição. . . Todos se calam, porque perderam a voz, tal a violência do discurso de Zeus. Somente Atená, a filha do coração, após concordar com o poderio paterno e prestar-lhe total submissão (excelente psicóloga!), ousa pedir que os Aqueus ao menos não pereçam em massa. E Zeus sorriu e disse-lhe que fosse em paz, sem temor: com "a filha querida" ele desejava ser indulgente!

A personalidade de Zeus parece desenvolver-se em dois planos: como "preposto" da Moîra, na Ilíada, age como déspota; como chefe incontestável da família olímpica, busca quanto possível a conciliação."

Hera Esposa de Zeus


"Hera é a esposa rabugenta de Zeus. A deusa que nunca sorriu! Penetrando nos desígnios do marido, vive a fazer-lhe exigências e irrita-se profundamente quando não atendida com presteza. Para ela os fins sempre justificam os meios. Para atingi-los usa de todos os estratagemas a seu alcance: alia-se a outros deuses, bajula, ameaça, mente. Chegou mesmo a arquitetar uma comédia de amor, para poder fugir à severa proibição do esposo e ajudar os Aqueus.

Atraiu femininamente Zeus para os píncaros tranqüilos do monte Ida e lá, num ato de amor mais violento e quente que as batalhas que se travavam nas planícies de Tróia, prostrou o poderoso pai dos deuses e dos homens num sono profundo! É verdade que não raro Zeus manifesta por ela um profundo desprezo e surgem então as ameaças e afirmativas de domínio masculino, o que mais acentua a fraqueza e a insegurança do grande deus olímpico, porque tais ameaças nunca se cumprem. Conhecedor profundo do rancor, da irritabilidade e da insolência da esposa, Zeus procura evitar, quanto possível, as cenas de insubordinação e a linguagem crua e desabrida da filha de Crono. Esquiva-se ou busca harmonizar as coisas, dando a falsa impressão de que o destino dos mortais depende mais do humor de Hera do que da onipotência do esposo. Em relação aos demais deuses e aos heróis, a deusa não tem meios-termos: ama ou odeia e na consecução destes dois sentimentos vai até o fim. Tem-se visto no comportamento de Hera, a deusa dos amores legítimos, sobretudo na influência exercida sobre Zeus, o reflexo da poderosa deusa da fecundidade (e ela realmente o foi em Creta), a cujo lado o esposo divino desempenharia um papel muito secundário: apenas o de deus masculino fecundador. A cena de amor no monte Ida simbolizaria tão-somente uma hierogamia, isto é, uma união, um casamento sagrado, visando à fertilidade."







Palas Atená


"Atená é o outro lado de Hera no coração de Zeus. Nascida sem mãe, das meninges do deus, é, já se mostrou, a filha querida, cujos desejos e rogos, mais cedo ou mais tarde, são sempre atendidos e cujas rebeldias sempre entristecem, "pois estas lhe são tanto mais penosas quanto mais querida é a filha". O canto VIII da Ilíada está aí para mostrar quanto Atená, a deusa da inteligência, é a preferida e a mimada pelo senhor do Olimpo."









Apolo





"Apolo homérico é uma personagem divina em evolução. Ainda se está longe do deus da luz, do equilíbrio, do gnôthi s'autón, do conhece-te a ti mesmo, daquele que Platão denominou pátrios eksegetês, quer dizer, o exegeta nacional. O Apolo da Ilíada é um deus mais caseiro, um deus de santuário, uma divindade provinciana. Preso à sua cidade, comporta-se como um deus tipicamente asiático: é o deus de Tróia e lá permanece. Raramente lhe ultrapassa os limites e é, por isso mesmo, pouco freqüentador do Olimpo."

Posídon





"Poseídon é um deus amadurecido pelas lutas que travou, e sempre as perdeu, com seus irmãos imortais e com o próprio Zeus. O deus do mar, na Ilíada, tem como característica fundamental a prudência. Sempre que discorda, comunica-se primeiro com o irmão todo-poderoso e acata-lhe de imediato a decisão. Quando Hera planejou uma conjuração contra o esposo e convidou o deus do mar, este se irrita e responde-lhe que "Zeus é cem vezes mais forte do que todos os imortais". Mas, numa ausência prolongada do Olímpico, Posídon aproxima-se, observa e, vendo-se em segurança, admoesta e encoraja os Aqueus. Por fim, quando Hera adormece no Ida ao esposo, o deus entra diretamente na luta e se empenha tanto nos combates, que não percebe o despertar de Zeus. Foi necessário o envio de Íris para admoestá-lo. Posídon obedece in continenti e o Olímpico se felicita pela submissão do deus do tridente. Apesar de prudente e submisso a Zeus, é incrivelmente rancoroso com os mortais."

Tétis





"Tétis é uma poderosa deusa marinha. Sua residência é uma gruta submarina, mas com todas as prerrogativas devidas a uma imortal tão importante. Seu poder é tão grande junto a Zeus, que, para vingar a timé de Aquiles, os Aqueus serão derrotados até o canto XVII da Ilíada! Mãe acima de tudo, procurou evitar por todos os meios que o filho participasse da Guerra de Tróia, porque lhe conhecia o destino. Com a morte de Pátroclo, após tentar maternalmente consolar o inconsolável Aquiles, dirige-se à forja divina de Hefesto e de sua esposa Cáris. Com que dignidade e humildade, aos pés do deus, segurando-lhe os joelhos, pede, a quem tanto lhe deve, que fabrique novas armas para o Pelida (Il XVIII, 429-461). Talvez Tétis seja a mais humana das figuras divinas de Homero."





Hefesto





"Hefesto é o deus coxo. Por tentar socorrer sua mãe Hera, que brigava com Zeus, foi por este lançado do Olimpo no espaço vazio. O deus caiu na ilha de Lemnos e ficou aleijado. Foi Tétis quem o recolheu e levou para sua gruta submarina. Hefesto sofre as limitações de seu próprio físico e serve comumente de alvo de chacota para seus irmãos imortais. Já o vimos, em meio às gargalhadas de seus pares, claudicando atarefado pelos salões do Olimpo."



Ares





"Ares é o menos estimado dos deuses: pelos homens e pelos imortais. De deus da guerra, o amante de Afrodite torna-se nos poemas homéricos uma personagem de comédia. Falta-lhe ainda muito para ser o flagelo dos homens. Se na Odisséia fez o papel ridículo de sedutor punido, na Ilíada, após ser ferido por Diomedes, corre ao Olimpo, segundo se mostrou, para queixar-se a Zeus, de quem recebe ironias e insultos."



Afrodite





"Afrodite é o amor. Apenas amor. Seu protegido é Paris. Para ele quer Helena sempre pronta e de braços abertos para recebê-lo, mesmo quando o poltrão, que não resistiu ao primeiro ataque de Menelau, no combate singular do canto III da Ilíada, é envolto numa nuvem e transportado para "o quarto perfumado" de Helena."





V - Observações Finais

A intensa participação dos deuses nos eventos da Guerra de Tróia, suas múltiplas facetas, seus preferidos entre  cidades, príncipes e heróis alguns “filhos” de suas relações com mortais, trazem um painel diferente do distanciamento que temos hoje de Deus dos Homens.

Posteriormente a igreja católica usou deste artifício de aproximação do divino com os homens nas relações de “padroeiros”, vários deuses protetores foram substituídos por santidades, alguns inclusive usando as mesmas indumentárias, facilitando assim a “conquista” das comunidades pagãs.

A mitologia nos fascina, impressiona, em particular por esta codificação de valores e representação de algo que está em nós. A leitura dos grandes livros da Grécia Antiga nos torna melhor e mais humanos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Economia Política e os novos desafios

" O que se vê, antes não era, e o que era, já não Existe" (W Shakespeare)

Estado de Bem Estar Social

No pós Guerra várias economias centrais (EUA, Japão, Europa Ocidental) impulsionaram seus estados nacionais com ampla distribuição de renda e atendimento das principais necessidades básicas dos trabalhadores como saúde, educação previdência, aumento da expectativa de vida. Todas estas garantias foram feitas por estados nacionais fortes, que participaram intensamente das atividades da economia, centralizando o planejamento e sendo o principal indutor desta, visão de Keynes era vencedora no mundo.

Muitos economistas consideram os anos 60 e parte dos 70, os anos dourados da economia mundial, larga expansão, crescimento e mundialização do comércio. Estes anos apagaram em parte a maior catástrofe da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. Neste contexto os EUA tomam para si a referência de crédito e dinamizador do crescimento. Garantia crédito e ao mesmo tempo comprar o que se produzia, mesmo que significasse enormes déficits comerciais. Porém garantia para si as rédeas econômicas e combatia o “comunismo”.

A dura crise do petróleo nos anos setenta combinado com as das dívidas externas no início dos anos 80 põem em xeque o estado de bem estar social (Welfare State) surgido do pós-guerra como contraponto ao leste europeu.

O Novo Liberalismo ou simplesmente: Neoliberalismo

A virada política começa com as vitórias de Reagan e Tatcher, estes impõe um duro ajuste econômico com privatizações e restrição do crédito “fácil” o que levou em 82/83 a grave crise das dívidas externas do terceiro mundo (Brasil, México e Argentina no default).

A ofensiva ideológica imposta neoliberal foi de que não havia qualquer possibilidade de “tatear” um contexto de ação econômica ou política fora desta ordem. Combateram sangrentamente as rebeliões na América Latina, como em El Salvador e Nicarágua. Usaram de qualquer método político-militar para impedir e sufocar revoluções e governos de esquerda.

Enfrentaram a antiga URSS e os países do leste europeu de forma decidida, derrotando-os impiedosamente com a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da Rússia. Mesmo governos claramente identificados com políticas de esquerda sucumbiram ao marasmo deste Tsunami interminável.

Nunca uma ideologia capitalista perdurou tanto como esta Neoliberal, que teve seu inicio com a derrota dos mineiros ingleses no Governo Thatcher, amplificado por 8 anos Reagan, que culminou com a queda do muro de Berlim, 30 anos ao todo,sendo os últimos 19 anos(89 a 2008) sem qualquer combate global ideológico.

Particularmente a defensiva política pela qual passamos com a queda do muro de Berlim, desarmou a esquerda ideológica que foi reduzida a pequenos círculos sem efetivo contato e produção política que oferecesse qualquer combate sistemático e global ao neoliberalismo. Em todos os campos sociais e políticos. A situação ficou tão ruim que Francis Fukuyama chegou a prever o fim da “história”.

Massacre Midiático

Grosso modo a perspectiva Neoliberal tinha os seguintes comandos lógicos:

1)       Fim da intervenção do Estado na economia;

2)      Estado apenas regula as disputas econômicas;

3)       Diminuição dos direitos sociais, fim da previdência pública e sistema de saúde privado;

4)      Fim da educação pública gratuita, prestação do serviço por entidades privadas;

5)      Sindicatos apenas “formais”, sendo diluído aos interesses das empresas privadas;

6)      Representação pública sem qualquer poder decisório, poder apenas formal, o real fica com as grandes corporações;

7)      Poder executivo vira uma espécie de tecnocrata que representa formalmente os interesses “nacionais”;

8)      Poder Judiciário capturado pelas demandas privadas, legalista e sem preocupação coletiva, no limite: apenas legitimar os interesses privados;

9)      Ideologia do extremo individualismo, “só apenas você interessa”, o importante é seus status e nenhum compromisso social;

10)   Qualquer iniciativa coletiva é tolhida, taxada de atitude velha e ultrapassada;

11)    História é apenas a nomeação de fatos isolados e datados, sem vinculação de classes e poder;

12)   Consumismo desenfreado, culto ao corpo, ao modismo, relações pessoais apenas as de interesse;

Os arautos midiáticos nos lobomotizaram longamente, reações esporádicas de vozes isoladas foram caladas, intelectuais identificados com a esquerda foram seletivamente ou cooptados ou jogados no limbo, as noções mínimas de jornalismo foram abandonadas.

Nas escolas e universidades a ideologia e o culto ao individualismo é a norma do dia, a necessidade de  que o importante é se dar bem, nem a mínima ética foi respeitada, percebe-se isto claramente no ambiente de trabalho em que colegas recém saídos das escolas com seus MBAs  chegam pisando em qualquer um, pois o objetivo é “crescer”.



Império Único, Senhor do Mundo e das Guerras

1)    Reagan e a vitória neoliberal

O ciclo neoliberal mais forte e ideológico americano deu-se durante o duro governo Reagan, que foi amplamente vitorioso na luta ideológico ao império soviético, como diz  Macbeth depois das revelações das bruxas "tudo que nos parecia sólido sumiu ao ventos como nossos anelos”.

Reagan conseguiu eleger seu vice, Bush Pai, respaldado pela vitória anti-comunista, sem inimigos claros no mundo. A base da economia americana no pós-guerra era a indústria bélica, bilhões de orçamento público era gasto para deter o inimigo vermelho, com seu fim ela em si perderia a razão lógica de existir. Se não havia contraponto no mundo para que manter algo surreal como ela?

Ledo engano, a pretexto de proteger suas posições no Golfo Pérsico, em 1991, Bush invadi o Iraque, seus leiais aliados de combate anti-iraniano. A mal sucedida invasão, do ponto de vista militar, pois não derrubou Sadam Hussein, reanimou a economia, não o suficiente para garantir um segundo mandato a Bush.

2)    Clinton e os anos dourados do neoliberalismo

Uma surpresa total para EUA foi a vitória de Clinton, ex-governador de Arkansas, estado pequeno e secundário nos EUA. Com uma trajetória de militância política em causas sociais, Clinton chega a Casa Branca e lidera por 8 longos anos um dos maiores crescimentos da economia americana, sem que houvesse um grande conflito externo. Favorecido pela liderança única americana no cenário mundial impôs uma política de expansão das empresas e influência americana baseada no dólar e no mercado financeiro.

Caminhava para garantir um terceiro mandato com Al Gore, seu vice, mas foi atingindo pelo escândalos sexuais, a direita americana pudica até uma tentativa de impedimento cogitou, safando-se por muito pouco. Esta perda de confiança fez com que não tivesse a coragem suficiente de enfrentar a fraude da família Bush na Flórida.



3)    Bush Filho a volta dos senhores da guerra

O episódio de vencer, sem ganhar, levou a uma mudança completa de atitude do Governo Americano, que experimentou uma defensiva externa, questionamento e foi atacado pela primeira vez em seu solo. Os episódios do 11 de Setembro de 2001 foi uma dura resposta tardia a presença americana no oriente médio.

Novo recrudescimento interno e externo deu uma nova guerra ao Iraque a família Bush, detentora de petróleo e amplamente financiada pelos lobbies da indústria bélica. O medo extremo imposto ao estilo de vida americano deu ao Bush Filho seu segundo mandato. Este porém foi um fiasco total, atolados numa guerra sem saída, a economia sem responder, foram 4 anos penosos, um novo “inimigo” crescendo silenciosamente(China) a financiar seu crescente déficit fiscal, culmina com um novo quase 11 de Setembro, 15/09, a quebra de todo o sistema financeiro americano.

4)    Obama o herdeiro do império

Obama surge do nada, ganha da favorita Hillary a indicação do Partido Democrata. Uma hipótese pouco cogitada leva um negro à presidência. Vitória de um outsider total. Sem um pé na máquina partidária, dominada pelos Clintons, Obama faz um acordo cruel, entrega a Secretária de Estado, ministério mais importante americano, a sua adversária Hillary.

Enfrentando uma crise sem precedentes, Obama mais ou menos dividiu seu Governo em dois, no front interno liderado por ele, tenta aprovar reformas na saúde e recompor a economia em frangalhos. No front externo entregue a Hillary e os falcões mais reacionários, como boa conhecedora da máquina de guerra, Hillary tem seu desempenho facilitada pelos crescentes conflitos advindo da ampla crise financeira mundial.

A dura visão do Departamento de Estado, dominado pela Direita dos democratas, escolhe seus “inimigos”, o principal deles o Irã, mesmo com o refluxo no Iraque a aventura no oriente médio ainda é prioritária, atende a demanda da indústria bélica, do setor petrolífero, do militares e dos falcões de Israel.

Queda do Neoliberalismo



A grande crise que estourou no mundo em Setembro de 2008 ainda repercute gravemente na Economia, na Política e claro na vida do cidadão comum. A maior conseqüência sem dúvida foi que o canto do cisne soou alto para a visão Neoliberal de mundo.

A crise mundial atingiu em cheio o coração das economias centrais, numa proporção ainda não medida totalmente, o fantasma de que a crise não passou e ameaça mais fica evidente com a quebra seqüencial de Grécia, provavelmente Espanha, Portugal e Irlanda. A Zona do Euro enfraquecia, abriu uma janela para que país como o Brasil com uma política externa agressiva brilhe no cenário mundial.

O mundo mudou rapidamente nestes dois anos, era inimaginável que um país absolutamente secundário no tabuleiro internacional como o Brasil, agora tenha um papel de protagonista, virou uma espécie de terceira via, diante de EUA, com sua visível débâcle e a China de amplo crescimento, sustentáculo da produção de base mundial.

Esta busca por um pólo democrático longe dos impérios pode e deve ser aproveitado pelo Brasil, até o momento tem sido muito bem ocupado este espaço, aparecendo na questão do Irã e sendo referência nas relações com seus parceiros mais pobres tanto na América Latina como na África.





A queda do muro de Wall Street – Setembro de 2008

A lógica de produzir fortunas a qualquer custo, em particular às alavancagens bancárias, foram criando ondas especulativas em a “riqueza virtual” superava em até 10 vezes a riqueza real. A necessidade crescente de guerras e conflitos para revigorar a produção de capital a emissão de moedas e o endividamento do USA, combinado com a inversão de fluxo de capital dos países periféricos para o centro criou o caldo de cultura para a futura crise.

A redistribuição da produção, privilegiando China e Índia, com a visão de barateamento ao extremo dos custos, leva conseqüentemente à desindustrialização dos grandes centros, começa um ciclo de sobrevivência das famílias através de empréstimos bancários cada vez mais “generosos”, uma bolha de consumo nunca vista na história ameaça todo o sistema. Grandes corporações americanas passam a ter mais “lucros” com atividades interbancárias de empréstimos do que com o produto vendido, caso exemplar da GM, Ford.

Os bancos como bombeadores do sistema com seus imensos créditos sem lastro vão à bancarrota de forma inacreditável, no espaço de 45 dias as maiores instituições bancárias do mundo falem sincronizadamente.

Socorro neoliberal pelo Velho ESTADO

Seria cômico se não fosse trágico, mas o Estado vilipendiado pelo neoliberalismo virou o socorro às estas almas carentes de fé na sua ideologia, todas as práticas e discursos foram esquecidos e como na música do Chico a fila para Geni salvar tinham todos os personagens.

Em poucos dias o USA elegeu Obama, quase 30% da economia americana foi formalmente estatizada, a dívida líquida e o déficit público as jóias da coroa neoliberal foram enfiadas no saco, a prova cabal de que a ideologia e a política não resistem a dinâmica de crise econômica produzida pelo capital.

O Brasil e o neoliberalismo



Como falamos acima nenhum projeto político ficou imune a lógica Neoliberal, o do PT de Lula se adaptou a este mundo,mas por uma condição particular de extrema miséria e às doses cavalares do receituário neoliberal aplicados aqui, já se começava a gestar iniciativas tímidas de tentativas de fazer algo diferente à política dominante.

Dois fatores, para mim foram fundamentais:

1)       Diminuição da dependência americana, busca de novos parceiros comerciais;

2)      Rompimento com a política de privatizações, que preservou o Banco do Brasil a CEF e a Petrobras;

Mesmo sob críticas ferozes Lula buscou desde 2003 remar lentamente contra a maré, fez um excelente política externa coordenada por Celso Amorim, aproximando da China, da África e uma aliança estratégica com a Europa, em particular com a França.

Impulsionou o G20 grupo que passou a ter voz ativa na OMC e fazer frente às demandas  dos países centrais de maior exploração dos recursos destas nações e imposição de seus interesses de privatização e invasão de seus produtos.

A segunda política, a de parar as privatizações salvou um pouco do patrimônio público e deu margem de manobra para impulsionar uma política de desenvolvimento incentivado pelo Estado.

A Petrobrás que quase fora privatizada por US$ 3 bilhões em 1999, em janeiro 2003 tinha seu patrimônio em US$ 20 Bilhões, em janeiro de 2010 ela vale US$ 200 Bilhões e movimenta cerca de 10% do PIB, sendo hoje a quarta maior petroleira do mundo. Os ganhos do Pré-Sal podem definitivamente tirar o Brasil da miséria endêmica.

O Brasil e a grande crise

Aos primeiros sinais da crise Lula, falou que ela seria uma “marolinha”, quase foi massacrado pela mídia e seus acólitos no parlamento. Porém ele jogou todo seu patrimônio político no combate a crise, enfrentou-a de peito aberto, com o significativo pronunciamento no natal de 2008.

Lula jogou todas as suas forças e recursos do Estado para que o Brasil fosse pouco atingido pelos efeitos da crise, importante lembrar os coveiros (Miriam Leitão, Sardenberg, PSDB e DEM) que torciam entusiasmados com a possibilidade de derrotar o governo, todo dia eles comemoravam um número ruim que saiam, em abril chegaram a dizer que o desemprego iria explodir em 2009, que a geração de novos empregos seriam nulas. No parlamento a ‘“marolinha” era motivo de chacota, os programas eleitorais do DEM/PSDB/PPS repetiam as piadas sobre a crise.

Logo em junho a situação se reverteu, o pior passara, o crescimento seria ZERO, mas o mundo todo em média seria de -4%, ou seja, estávamos no Lucro. A previsão de geração de emprego foi de 1 milhão.

Lula passou a ser visto no mundo como o “CARA” nas palavras de Obama, sua rapidez de agir, firmeza e principalmente a confiança de que só nós podíamos vencer a crise convenceu a população de que era possível.

Novo debate Político



Pós-muro de Berlim: a grande melancolia da Esquerda

As imagens da queda do muro de Berlim, mostradas e reprisadas à exaustão foi um baque imenso na Esquerda mundial, havia dois sentimentos nas principais correntes de pensamento:

1)       Estupor: Por parte dos grupos que tinham vínculos históricos político-afetivos com a URSS, em particular correntes Stalinistas e não-trotskistas em geral. Aquele profundo desanimo de repensar a vida e valores morais, culturais, fé e utopia;

2)      Euforia: Por parte das correntes Trotskista, que viram na queda a justeza de que sempre tiveram razão de que lá não era Socialismo e mais ainda que uma nova revolução estava em curso, os trabalhadores não aceitariam à volta do “capitalismo”.

Sabemos as profundas conseqüências deste comportamento. Na parte não-trotskista e stalinista, muitos companheiros se quebraram, moralmente abatidos, era uma paulada atrás da outra, todos os sonhos ruíram de forma rápida e inequívoca, praticamente Todos os projetos de esquerda no mundo foram desarticulados, a vitória histórica foi acachapante.

Do lado trotskista a ficha demorou a cair se é que efetivamente caiu para alguns, de que eles também não teriam público para continuar a revolução, a própria análise de que o leste não era Socialista, mas mesmo assim os trabalhadores de lá não iam aceitar o Capitalismo é uma flagrante contradição.

Houve uma tentativa meio “tateado às cegas” de fazer balanços históricos de se entender o que passara nos 72 anos de URSS, os grandes erros, o que levar de lição da revolução. Porém faltaram “audiência” e disposição moral para ir até o fim.

Na metade dos anos 90 a atomização da esquerda revolucionária era fato, com a integração do PT ao regime, as experiências de PSTU e mais recente PSOL, ainda não tem dimensão de massas e não conseguiram discutir um programa capaz de empolgar o ideário revolucionário. Permanecendo assim o PT ainda dentro de um campo de debates de idéias e suas de experiências de administrações dentro dos marcos burgueses são referência para o conjunto da classe.



Pós-queda de Wall Street: a grande melancolia da Direita

Setembro de 2008 são o marco da queda do castelo Neoliberal, a bancarrota de toda a lógica de acumulação de capital dominante da última do Século XX e a década inicial deste século tem efeito político-ideológico similar à queda do muro de Berlim.

Ruiu a visão de que a História tinha acabado, de que o Estado não era mais necessário, de as organizações coletivas eram peças de museu. Todo arcabouço ideológico foi “triturado” pela crise.

As ações dos frágeis Governos nacionais foram em busca do receituário do passado, ninguém propôs menos estado, por que será? O estado virou a salvação de todos os pecados, aquele mesmo que fora “demonizado” nos áureos tempos Reagan, veio como o Salvador, não deve passar despercebido que a mídia fechou os olhos para esta heresia.

Óbvio que o desmonte feito no Estado em alguns países foi de uma violência tamanha, que nem a possibilidade de uma ação mínima foi tentada. Nações inteiras faliram, exemplos piores na periferia foram: México ( http://especiais.ig.com.br/zoom/a-guerra-contra-o-narcotrafico-no-mexico/ ), Argentina e Turquia. Nas economias centrais os seus déficits públicos e endividamento estatal foram ao espaço, noticias de hoje dão conta de que: Grécia, Espanha, Portugal e Itália estão na completa insolvência. Caricato é Dubai ilha artificial da burguesia de mau gosto também faliu.

A Esquerda ficou desarmada pós-muro, vejo que a Direita agora está sem terra sob os seus pés.A saída da esquerda foi buscar seus teóricos(Marx,Lenin) agora a Direita busca keynes assombradamente, como uma miragem.

Um novo debate de projeto de mundo

Este jogo de projetos alternativos volta ao mundo depois de 19 anos de massacre e pensamento único, a Direita tinha seu projeto e era incontestável, hoje ela não tem projeto, apenas administra (mal e porcamente) a crise gigantesca, mas ainda não achou um novo cabedal político e ideológico a ancorar.

A esquerda na sua longa crise letargia ainda não forjou um novo paradigma na luta contra o capital, aqueles(trostkistas) que achavam que a revolução se abria não conseguiu encontrar seus “novos/velhos Soviets” nem a Direita achará seu “Estado de Bem estar Social”.

A questão é complexa para os dois lados, buscar teoria já testada é necessário, porém mundo não é o mesmo de 1917 e nem anos pós-guerra. Este é desafio da Direita e o nosso da Esquerda: entender o mundo parece secundário, mas ambos (direita e esquerda) dão respostas com receituário velho para novas doenças. Agora empatamos o jogo, estamos sem armas e certezas absolutas

Claro que a situação é melhor já não sofremos o massacre político-ideológico destes últimos 20 anos, mas também não nos conforta saber que fomos incapazes de repensar nossos conceitos, nem o velho Marx conseguimos entender. Neste tempo todo não termos feito nada de concreto, alternativo, apenas resistir é muito pouco.

A Direita tem tempo, dinheiro, quadros, controle da conjuntura para se repensar, cooptar alguns dos nossos, torná-los dóceis e usáveis, mas não demonstrou nada global que substitua o modelo Reagan.

É um mundo novo cheio de significados e mistérios, propício às novas idéias será que somos capazes de conquistá-lo?

Virando a página



Vamos virar a página e recomeçar com o Grande Pink Floyd


Wearing The Inside Out

Pink Floyd


Composição: Rick Wright/Anthony Moore

From morning to night I stayed out of sight

Didn't recognize I'd become

No more than alive I'd barely survive

In a word...overrun

Won't hear a sound

(He's curled into the corner)

From my mouth

(But still the screen is flickering)

I've spent too long

(With an endless stream of garbage to)

On the inside out

(...curse the place)

My skin is cold

(In a sea of random images)

To the human touch

(The self-destructing animal)

This bleeding heart's

(Waiting for the waves to break)

Not beating much

I murmured a vow of silence and now

I don't even hear when I think aloud

Extinguished by the light I turn on the night

Wear its darkness with an empty smile

I'm creeping back to life

My nervous system all awry

I'm wearing the inside out

[verso em 2 vozes]

Look at him now

He's paler somehow

But he's coming around

He's starting to choke

It's been so long since he spoke

Well he can have the words right from my mouth

And with these words I can see

Clear through the clouds that covered me

Just give it time then speak my name

Now we can hear ourselves again

I'm holding out

(He's standing on the threshold)

For the day

(Caught in fiery anger)

When all the clouds

(And hurled into the furnace he'll)

Have blown away

(...curse the place)

I'm with you now

(He's torn in all directions)

Can speak your name

(And still the screen is flickering)

Now we can hear

(Waiting for the flames to break)

Ourselves again

Vestido Às Avessas

De manhã até à noite eu fiquei fora de vista

Não percebi o que tinha me tornado

Não mais do que vivo eu quase nem sobrevivo

Numa palavra...ultrapassado

Não se escutará nenhum som

(Ele está encolhido no canto)

Da minha boca

(Mas ainda assim a tela está oscilando)

Eu gastei muito tempo

(Num raio sem-fim de lixo para)

Às avessas

(...amaldiçoar o lugar)

Minha pele está insensível

(Um mar de imagens aleatórias)

Ao toque humano

(O animal auto-destrutivo)

Esse coração sangrento

(Esperando o quebrar das ondas)

Não está batendo muito

Eu sussurrei um voto de silêncio e agora

Nem eu mesmo escuto quando penso em voz alta

Apagado pela luz eu acendo a noite

Visto esta escuridão com um sorriso vazio

Estou me arrastando de volta à vida

Meu sistema nervoso está todo desregulado

Eu estou às avessas

[ ... ]

Olhe para ele agora

De alguma forma está mais pálido

Mas está voltando a si

Ele está começando a engasgar

Faz tanto tempo desde que ele falou

Bem, ele pode ficar com as palavras da minha boca

E com essas palavras eu posso ver

Claramente através das nuvens que me cobriam

Apenas de um tempo então fale meu nome

Agora podemos nos ouvir novamente

Estou me escondendo

(Ele está no limiar)

Por hoje

(Preso numa raiva ardente)

Quando todas as nuvens

(E arremessado nesse inferno ele irá)

Foram sopradas para longe

(...amaldiçoar o lugar)

Estou com você agora

(Ele está ferido de todas as formas)

Posso falar seu nome

(E ainda assim a tela oscila)

Agora podemos escutar

(Esperando as chamas pegarem)

Novamente a nós mesmos