segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Trilogia de Orestes

Trilogia de Orestes

Ésquilo



Passado Anterior (Guerra de Tróia)


Agamenon foi comandante em chefe da armada Grega na guerra contra Tróia, ele era irmão de Menelau, era casado com a Irmã de Helena, Clitemnestra. Como os ventos não lhe eram favoráveis para partida das naus gregas, eles ficaram retidos em Áulis, Agamenon manda consultar o oráculo de Delfos e a resposta é que ele tem que sacrificar a filha Ifigênia, pois só assim os deuses permitiriam o prosseguimento da empreitada. Obediente aos fados, chama à Áulis a filha dizendo para esposa que ali realizaria o casamento dela com Aquiles, o Pelida, o maior herói Grego. Clitemnestra toda satisfeita leva a filha, porém ao chegar ver o marido realizar o sacrifício exigido pelos deuses. Revoltada, Clitemnestra retorna para casa e faz de Egisto(primo de Agamenon), seu amante, prometendo vingar-se de Agamenon.



1º Livro – Agamenon




Tema: Tragédia. Traição

Resumo: O assassinato de Agamenon, após seu retorno de Tróia, por sua esposa Clitemnestra e seus amante Egisto

Inicia-se com o retorno glorioso de Agamenon que vencera a guerra de Tróia e entre os seus troféus e riquezas, trouxe como amante a vidente Cassandra, que apesar do poder ela era desacreditada em suas profecias. Sua entrada nas ruas de Micenas em festa pelo retorno do rei de seus sobreviventes depois de 10 anos de longa guerra, ele é homenageado com júbilos nas praças da cidade, até a entrada no palácio real.

Clitemnestra dá as boas vindas ao marido, fingindo não ver que ele traz consigo a amante, Cassandra uma das princesas filha de Príamo e Hecuba. Prepara o banho real, como a esposa saudosa. Agamenon se despoja das armas e vai ao banho, sem perceber a presença do seu primo  e inimigo que aproveitando de sua fragilidade mata-o sem piedade. O pequeno Orestes filho de Agamenon e Clitemnestra foge  para o exterior, sua irmã, Electra é entregue a uma família de camponeses para que seja criada longe do palácio real. Cassandra é morta por Egisto, este junto com Clitemnestra passam a governar a cidade-estado.

2º Livro – As Coéforas


Tema: Tragédia. Vingança

Resumo: Orestes volta do exterior para vingar a morte do pai, sendo ajudado por sua irmã Electra

Passados dez anos, todo dia Electra vai visitar o túmulo do seu pai. Um dia, porém, depois de muito se lamentar os fados de sua vida, percebe que está acompanhada e que este tem o mesmo tipo de cabelo que ela, além de sua pegada ser parecida com a do irmão. Ao inquirir o forasteiro este se revela como sendo Orestes que voltou com o amigo Pílades.

Os dois conversam com Electra e revelam que pretendem vingar a morte de Agamenon. Disfarçado Orestes chega ao palácio se apresentado como estrangeiro que tem comunicação urgente para Rainha Clitemnestra, é prontamente recebido por ela e lhe diz que Orestes está morto. Egisto, que estava fora, retorna e ao saber da notícia finge que está triste em saber que seu enteado está morto. Aproveitando-se do momento, Orestes, mata Egisto e logo a seguir sua mãe, completando assim a vingança.

Porém Orestes passa a ser perseguido pelas fúrias (criaturas da noite) que exigem que os crimes cometidos por pessoa do sangue sofram punição igual.

3º Livro – As Eumênides


Tema: Tragédia. Julgamento

Resumo: Orestes havia matado Clitemnestra, sua mãe, e o amante dela Egisto, ele deverá ser julgado pelo conselho dos sábios presidido por Palas Athena, filha de Zeus





Orestes matou sua mãe,Clitemnestra, e o amante dela Egisto, mas logo a seguir passar a ser perseguido ferozmente pelas Eumênide(as Fúrias) por todo e qualquer lugar que fosse dia ou noite as deusas da vingança dos crimes de sangue não permitiram quem ele descansasse, fazendo com que ele fosse até Atenas.

Em Atenas, no templo da Deusa Palas Athena, Orestes será julgado pelos crimes. A deusa preside o julgamento tendo as fúrias à prerrogativa da acusação. São apresentados os argumento dos dois lados, findado os debates o conselho dos velho Doze sábios passa a votar e não chegam a um consenso terminando empatada a votação (6 pela absolvição e 6 condenação). Athena (Minerva para os romanos) decide pró réu devido o empate.

Comentários

Estes três pequenos livros são conhecidos como a Oréstia, por isso coloquei-os aqui de uma única tacada. Formam um conjunto interessante pois seguindo uma lógica dialética teríamos para cada livro uma parte desta: Tese, antítese e a síntese.

Há todo o contexto que precisa ser conhecido e avaliado para o melhor entendimento, tendo três vetores fundamentais da função do teatro grego, me baseio na Paidéia :

1)    Questão da Religiosa;

2)    A Questão Política;

3)    A questão da justiça;

Questão da Religiosa

A visão comum dos gregos era de que os fados ou uma maldição familiar de violar a ordem divina precisavam ser purgados, de geração em geração, os erros dos antepassados.

A história da família de Agamenon começa com o lendário rei Pélope, que  tinha sido manchada por Violação, assasínio, traição. A maldição dos Átridas(descendentes de Atreu)  a linhagem fundada por  Tântalo, filho de Plota e Zeus. Tântalo casou-se com a deusa  Dione, e dela tiveram Pélope e Níobe. Porem em certa ocasião Tântalo matou Pélope e serviu-o como sopa para os deuses. Por isso teve a sua vida sacrificada, para que Pélope voltasse à vida. Os gregos acreditavam que este passado violento lançou infortúnios sobre a inteira Casa de Atreu

Aqui já na terceira e quarta geração são retroalimentando os crimes de sangue, numa ordem de vinganças e morte, o basta, ou “perdão” final se dar com Orestes.

Questão Política

Através do teatro ensinava-se à sociedade os editos permitidos e proibitivos do estado, neste sentido as vinganças familiares, de matar a quem matou seus parentes, que eram toleradas precisava ter um fim, porque ameaçava o estado e paz social, em crimes sem fim. O que antes era permitido passa a ser proibido, coincide com as leis de Sólon.

Questão de Justiça



Aqui os primeiros entendimentos de julgamento, conselho de sábios, juízes imparciais são apresentados à sociedade numa peça que tem fundamentalmente a função educativa e até mesmo em caso de igualdade qual caminho seguir.

Funda-se neste caso o que o direito romano consagrará no futuro sobre a questão na dúvida pró réu.

Complexidade da Sociedade e a questão da Mulher

A transição é clara da sociedade matriarcal representada por Clitemnestra para sociedade patriarcal conduzida por Orestes. No fundo Orestes “mata” aquela velha sociedade e sob os auspícios da deusa Athena, que não nascera de mulher é absorvido pela nova forma política que se impõe.

Alguns ritos iniciáticos também são apresentados, Ifigênia ao invés de ser morta na hora H é substituída por uma Corsa (lembra o sacrifício de Abrão). Orestes vai viver no exílio, para de criança volte como guerreiro adulto, tem em Pílades seu preceptor.

Sobre Ésquilo



Poeta grego. Viveu por volta de quatrocentos e oitenta A.C. É um dos precursores da tragédia grega. São poucos os livros dele que chegaram até nós. Muitos dos seus escritos se perderam por completo, outras apenas partes. Temos acesso aos seguintes: a TRILOGIA DE ORESTES e o PROMETEU – que é uma trilogia, mas que se conhece apenas o primeiro volume.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Macbeth: Trono de Sangue

Tema: Tragédia




(As bruxas desaparecem.)

BANQUO — A terra tem borbulhas, tal como a água. Elas são justamente isso. Mas para onde sumiram?

MACBETH — No ar; e tudo quanto nos parecia ser corpóreo se fundiu como ao vento nosso anélito. Oh! se tivessem demorado um pouco!





Segundo o grande Professor e crítico literário Harold Bloom: “Shakespeare e Dante são o centro do cânone porque superam todos os outros escritores ocidentais em acuidade cognitiva, energia lingüística e poder de invenção”, esta definição própria dos três dons fundamentais se funde nas obras dos grandes bardos. Em que momento esta genialidade aflora é muito difícil precisar, Bloom arrisca que no caso de Shakespeare inicia-se com “Trabalho de amores perdidos” e vai numa seqüência incrível que em menos de cinco anos(1593-1598) tinha “Sonhos de uma noite de verão”, “O Mercador de Veneza”, as duas parte de “Henrique IV” “Rei João” e “Romeu e Julieta”. Com Falstaff ele atinge o primeiro grande pico de personagens que culminará no maior deles Hamlet.

Atingindo por uma tragédia pessoal, morte de seu filho, Shakespeare escreve várias grandes tragédias, entre estas, a mais diabólica delas Macbeth:.

Resumo



Macbeth, o grande general do Rei Duncan, no campo de batalha debela a revolta contra o trono promovido por Macdonwald. Simultaneamente o Thane(Duque) de Cawdor  se alia ao rei norueguês para tentar derrubar o rei Duncan e tomar o poder, porém as forças reais os derrota. Na volta da batalha Macbeth e seu melhor amigo Banquo são surpreendidos por uma aparição terrível de três bruxas que proclamam:


MACBETH — Respondei, se puderdes: quem sois vós?

PRIMEIRA BRUXA — Viva, viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Glamis!

SEGUNDA BRUXA — Viva, viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Cawdor!

TERCEIRA BRUXA — Viva Macbeth, que há de ser rei mais tarde!

BANQUO — Meu bondoso senhor, por que motivo vos mostrais assustado, parecendo recear o que de ouvir é assim tão belo? Em nome da verdade, imaginárias sereis realmente, ou o que mostrais por fora? Meu nobre companheiro foi saudado com títulos, por vós, de atual valia e grande predição de haveres nobres e de real esperança, que parece deixá-lo arrebatado. Porém nada me dissestes. Se podeis ver a seara do tempo e predizer quais as sementes que hão de brotar, quais não, falai comigo, que não procuro nem receio vosso ódio ou vosso favor.

PRIMEIRA BRUXA — Salve!

SEGUNDA BRUXA — Salve!

TERCEIRA BRUXA — Salve!

PRIMEIRA BRUXA — Menor do que Macbeth, porém maior!

SEGUNDA BRUXA — Não tão feliz, mas muito mais feliz!

TERCEIRA BRUXA — Gerarás reis, embora rei não sejas! Assim, viva Macbeth e viva Banquo!



As duas primeiras profecias em relação a Macbeth são inesperadamente cumpridas, ainda no campo de batalha ele é informado que recebera os títulos: Thane de Glamis e de Cawdor. Aguça nele o desejo ardente de que seja cumprida a terceira profecia, de que seria rei. Convidado a entrevistar-se com o rei Duncan, ele vai com Lady Macbeth sabedora das predições das bruxas, ambos tramam a morte do rei e a executam na mesma noite após o jantar.

Numa longa seqüência, Macbeth mata os dois sicários contratados para assassinar o rei, e assume o trono. Lembrando das profecias em relação a Banquo seu amigo e cúmplice, também o mata, o trono está todo manchado de sangue.

Transtornado volta ao local que vira as bruxas e conclama-as a novas previsões:

MACBETH — Ouve-me, força ignota...

PRIMEIRA BRUXA — Não prossigas. Sabe o que pensas. Ouve e nada digas.

PRIMEIRA APARIÇÃO — Macbeth, Macbeth, Macbeth! Toma cuidado com Macduff, acautela-te com o thane de Fife! Desobriga-me; é o bastante.

(....)

SEGUNDA APARIÇÃO — Sanguinário sê sempre, ousado e resoluto, e aprende a rir do homem, porque ninguém nascido de mulher poderá, em nenhum tempo, fazer mal a Macbeth.

(...)

TERCEIRA APARIÇÃO — Veste a força do leão, sê orgulhoso e não te importes com quem quer que resmungue ou se rebele, ou contra ti conspire, pois vencido não há de ser Macbeth, enquanto o grande bosque de Birnam não subir contra ele ao alto Dunsinane. (Desce.)

(Aparece uma seqüência de oito reis, tendo o último um espelho na mão; segue-o o fantasma de Banquo.)

MACBETH — Pareces muito o espírito de Banquo. Desce! Tua coroa cauteriza-me os olhos; teus cabelos — tu, uma outra fronte de ouro cingida — se parecem com os do primeiro, tal como o terceiro que se lhe segue. Bruxas repugnantes, por que me mostrais isto? Outro! É o quarto! Olhos, estarrecei. Como! esta linha se estenderá até ao fim do mundo? Mais um, ainda? o sétimo? Não quero ver mais nada; porém eis que surge o último com um espelho na mão, que muitos outros, ainda, me revelam. Uns distingo com duplo globo e cetro triplicado. Pavorosa visão! Agora vejo que é verdade, pois Banquo, recoberto de sangue, me sorri e mos indica, como se filhos dele fossem todos. (As visões desaparecem.) Como! É assim!

Macbeth fica paranóico e num jantar com toda a corte ele começa a ter visões de que Banquo está na mesa a assustá-lo, causa comoção a sua loucura, Lady Macbeth trata de desculpar-se dizendo tratar-se de um mal súbito. Porém a própria Lady Macbeth começa a ter alucinações com as mãos cheias de sangue do casal real morto, na sua loucura de suicida. Ao ser informado da morte da esposa e aliada de todos os crimes:

SEYTON — A rainha morreu, senhor.

MACBETH — Devia ter morrido mais tarde; então, houvera ocasião certa para tal palavra. O amanhã, o amanhã. Outro amanhã, dia a dia se escoam de mansinho, até que chegue, alfim, a última sílaba do livro da memória. Nossos ontens para os tolos a estrada deixam clara da empoeirada morte. Fora! apaga-te, candeia transitória! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre cômico que se empavona e agita por uma hora no palco, sem que seja, após, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muita barulheira, que nada significa.

A Macduff  Thane de Fife organiza um exército com nobres e apoio inglês e enfrenta o enfermo  Macbeth, confiando na profecia enfrenta um a um seus adversários até bater-se com o próprio Macduff , este lhe informa que não nascera de mulher, pois era prematuro, sua mãe não tivera parto normal.



Comentário:

Trono de Sangue é muitas vezes usada como subtítulo de Macbeth pela violência extrema, a luta pelo poder de lugar-tenente que depois de previsões mágicas (aqui a psique, fala-lhe aos seus ouvidos) ele junto com Lady Macbeth parte resoluto para fazer cumprir todos os desígnios, não importando o quanto de sangue precisará derramar.

Os elementos de ambição, necessidade de satisfazer o desejo de poder, a corrupção moral e ética, transformam Macbeth numa máquina de matar, não poupa ninguém, seus superiores e parentes, seus amigos fieis e levam a loucura sua esposa e cúmplice. O suicídio dela assim como a busca pela morte de Macbeth fecham o círculo do mal.

O General vencedor dar lugar ao humano ambicioso das intrigas palacianas, como rude homem da guerra a morte é mero detalhe na sordidez de sentimento que lhe consume. Shakespeare nos apresenta a consciência por inteiro de toda maldade que o ser humano é capaz, Macbeth reflete, diz exatamente o que sente, sua crueza e crueldade saltam nos versos.

As reflexões de Macbeth poderiam ser de qualquer um de nós no espelho, principalmente daqueles que buscam o PODER a qualquer preço. Amigos, lealdade à pátria e aos superiores são todos esquecidos pelo desejo ardente e sanguinário de ter PODER real e irrestrito.

As bruxas, por óbvio, são nossos “demônios” adormecidos, que desperta nossa vaidade e maldade, em particular nos momentos de glória (Macbeth acabara de vencer uma guerra civil). Corrompe o espírito, perde a placidez e virtude, e joga à roda viva para saciar a sede de PODER.

A peça é tida como “amaldiçoada” desde quando foi encenada a primeira vez no Globe, diz-se que pegou fogo, noutra vez o ator principal faleceu. É sempre cercada de estórias, tendo inclusive, tacitamente, banida de representação por estas coincidências infelizes. Roman Polanski fez sua versão pouco depois do assassinato de sua esposa Sharon Tate. Orson Welles fez sua em 1948. Akira Kurosawa fez Kumonosu-Jô (Trono Manchado de Sangue) em 1957.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ricardo III: "O Trono ou a Morte"

Tema: Luta pelo Poder, traição e violência






Ó inverno do nosso descontentamento foi convertido agora em glorioso verão por este sol de York, e todas as nuvens que ameaçavam a nossa casa estão enterradas no mais interno fundo do oceano.”





A sentença inicial de Ricardo III irá permear todo o desenrolar de sua luta obstinada pelo poder, que se preparou desde a tenra idade para assumi-lo, alimentando intrigas, bajulando às vezes, seduzindo e fundamentalmente destruindo seus adversários. Envergonhado de sua feiúra irá destilar seu ódio interno em sua luta desesperada pelo poder única fonte de “beleza” que lhe compense sua aparência disforme.

Resumo



Eduardo IV(Casa de York) Rei inglês já velho e dominado pela família de sua mulher, Lady Grey, acredita numa profecia de que um grande “G” o derrubará do trono, manda para prisão seu irmão George achando ser ele o G. Na prisão, George é assassinado a mando do seu outro irmão mais novo,Ricardo, duque de Gloucester. Se sentido culpado Eduardo não resiste e também morre.

O caminho da sucessão esta aberto, o deformado Ricardo assume o protetorado dos sobrinhos ainda criança, legítimos herdeiros. Manda-os para uma torre (prisão) e mata os irmãos de sua cunhada e a difama dizendo que os filhos não são de seu Irmão morto, assim não seria herdeiros.

Assume a coroa como Ricardo III, alegando não haver mais ninguém na linha sucessória além dele mesmo, sanguinário ordena a morte dos sobrinhos na prisão e de todo e qualquer opositor ao seu reinado. Mata a própria esposa para casar com a filha do seu irmão George. No ápice de sua loucura, ele mata um adversário e seduz a viúva em pleno funeral.

Na frança Henrique Richmond parente de Henrique VI(Casa de Lancaster) prepara uma aliança de nobres banidos e perseguidos por Ricardo III, que se unem contras as loucuras e paranóias do Rei. Numa dura guerra civil vence-o tornando-se Henrique VII.







Comentário:

É uma das peças mais violentas de Shakespeare, baseada na história do trono inglês, mas com ingredientes próprios de Shakespeare que cria um dos personagens mais complexo de sua literatura. Ricardo III nasceu prematuro, seus órgãos não estavam todos formados, cresceu feio em suas próprias palavras:

“eu, que privado sou da harmoniosa proporção, erro de formação, obra da natureza enganadora, disforme, inacabado, lançado antes de tempo para este mundo que respira, quando muito meio feito e de tal modo imperfeito e tão fora de estação que os cães me ladram quando passo, coxeando, perto dele.”





Esta mente deformada usa da extrema violência para impor sua vontade e compensar sua feiúra física. Com um discurso sedutor e uma lábia ferina, primeiro põe um irmão contra o outro, passando-se por independente. Vai maquinando vorazmente sua chegada ao poder. A cena da sedução da viúva no funeral do marido que ele assassinara é de uma profundidade sem tamanho.

Shakespeare traça em Ricardo III tudo aquilo que irá realizar em Macbteh, a extrema inteligência do personagem, seu poder de sedução, sua maldade inata, não há o menor pendor ético na sua conduta, é uma peça dura e poética ao mesmo tempo, uma sensação de soco no estomago permanente.

Grandes montagens e filmes foram feitos baseadas em Ricardo III, Hitler é visto como o paradigma dele, Ian McKellen, fez um grande filme adaptado ao momento Nazista inspirado nele. Al Pacino fez outro ensaio/montagem.


Ricardo III,  hoje é um personagem bem vivo entre nós, representado por aqueles que buscam o poder ilimitadamente, que na falta de carisma usam da violência de suas próprias mãos ou por seus vassalos midiáticos.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Manual de Trolagem segundo Shakespeare

Troll : Internet x Folclore Escandinavo

I - Segundo a definição do Wikipedia de Troll na Internet:


“Um troll , na gíria da internet, designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nelas. O termo surgiu na Usenet, derivado da expressão trolling for suckers (lançando a isca para os trouxas), identificado e atribuído ao(s) causador(es) das sistemáticas flamewars e não os trolls, criaturas tidas como monstruosas no folclore escandinavo

O comportamento do troll pode ser encarado como um teste de ruptura da etiqueta, uma mais-valia da sociedade civilizada perante as provocações insistentes, as vítimas podem (ou não) perder a conduta civilizada e envolver-se em agressões pessoais. Porém, independentemente da reação das vítimas da trollagem, o comportamento do troll continua sendo prejudicial ao fórum, pois o debate ou degenera em bate-boca ou prossegue sendo vandalizado pelo troll enquanto este tiver paciência ou interesse de atuar”


II - Porém na mesma Wikipedia temos o Troll como criatura do Folclore Escandinavo e segue na definição:


“Os trolls são criaturas antropomórficas do folclore escandinavo. Poderiam ser tanto como gigantes horrendos - como ogros - ou como pequenas criaturas semelhantes a goblins. Viviam em cavernas ou grutas subterrâneas.

Na literatura nórdica, apareceram com várias formas, e uma das mais famosas teria orelhas e nariz enormes. Nesses contos também lhes foram atribuídas várias características, como a transformação dessas criaturas em pedra, quando expostas à luz solar.

Características:

Geralmente os troll são descritos como criaturas humanoides, não muito inteligentes. Às vezes são descritos como gigantes nórdicos ou algo semelhante aos ogros, seus tamanhos variando a depender da história. Vivem pouco, até os 75 anos, e atingem a idade adulta aos 30 anos; não vivem em bando e são muito agressivos. Poucos conheceriam uma língua diferente da sua - otriolla mûn. Alguns são mais estranhos e raros, como os trolls do subterrâneo, que seriam menos inteligentes do que seus primos, porém mais fortes e agressivos, atingindo entre 2,35 m a 3,45 m de altura. Embora não considerados inteligentes, eram temidos, pois se acreditava que dominavam a arte da ilusão.


Shakespeare e a arte de “trolar”com classe

Mas não fiquei satisfeito e resolvi contibuir para melhorar o nível da trolagem atual, cansado de ler as bobagens dos trolls contratados por Serra que se limita a difamar as pessoas, sem nem entender o que defendem, ou apenas repetir as fraseologias: Dilma Terrorista, versão nova para Lula Analfabeto, Trololó Petista(Trolagem predileta dita por Serra para qualquer coisa diferente do que ele pensa). Ou por fim intimidar jornalista para lhe impingir filiação partidária.

Diante disto peguei os trechos de maior trolagem da literatura que conheço: Hamlet. O príncipe dinamarquês finge-se de louco e  sacaneia um a um os seus “amigos” bajuladores e afins, sigam o que o mestre fala:


1)    Hamlet Trola Polônio (primeiro-ministro e puxa-saco real)
  • P0LÔNI0: É urgente; deveis ambos sair, eu vos
  • suplico. Vou falar-lhe.
  • (Saem o Rei, a Rainha e os criados.) (Entra Hamlet,
  • lendo.)
  • Como passa o meu bom príncipe Hamlet?
  • HAMLET: Bem, graças a Deus.
  • P0LÔNI0: Conheceis-me, milorde?
  • HAMLET: Perfeitamente; sois um peixeiro.
  • P0LÔNI0: Eu, não, milorde.
  • HAMLET: Pois quisera que fôsseis tão honesto.
  • P0LÔNI0: Honesto, príncipe?
  • HAMLET: Sim, porque do jeito em que o mundo anda,
  • ser honesto equivale a ser escolhido entre dez mil.
  • P0LÔNI0: É muito certo isso, príncipe.
  • HAMLET: Porque, se o sol gera vermes no cadáver de
  • um cão, carniça muito bela para ser beijada...
  • (...)
  • P0LÔNI0: Vou falar-lhe outra vez.
  • Que é que o meu príncipe está lendo?
  • HAMLET: Palavras, palavras, palavras...
  • P0LÔNI0: A que respeito, príncipe?
  • HAMLET: Entre quem?
  • P0LÔNI0: Refiro-me ao assunto de vossa leitura,
  • príncipe.
  • HAMLET: Calúnias, meu amigo. Este escravo satírico
  • diz que os velhos têm a barba grisalha, a pele do
  • rosto enrugada, que dos olhos lhes destila âmbar
  • tenue e goma de ameixeira, sobre carecerem de
  • espírito e possuírem pernas fracas. Mas embora,
  • senhor, eu esteja íntima e grandemente convencido
  • da verdade de tudo isso, não considero honesto
  • publicá-lo; por que se pudésseis ficar tão velho
  • quanto eu, sem dúvida alguma andaríeis para trás
  • como caranguejo.
  • POLÔNIO (à parte) - Apesar de ser loucura, revela
  • método.
  • Não quereis sair do vento, príncipe?
  • HAMLET: Entrar na sepultura?
  • POLÔNIO: Realmente, desse modo sairíeis do vento.
  • (À parte.) Como são agudas, não raro, as suas
  • respostas! É uma felicidade da loucura, algumas
  • vezes, felicidade que a razão e o bom senso não
  • alcançam com a mesma facilidade.
  • (...)


  • P0LÔNI0: Passai bem, meu príncipe. (Retirando-se.)


  • HAMLET: Esses velhos cacetes e sem miolo!

2)    Hamlet Trola Rosencatraz e Guildenstern
  • ROSENCRANTZ: A quê, meu príncipe?
  • HAMLET: Que eu possa guardar o vosso segredo e
  • não o meu. Além do mais, ser interrogado por uma
  • esponja! Que poderá responder-lhe um filho de rei?
  • ROSENCRANTZ: Tomais-me por uma esponja,
  • príncipe?
  • HAMLET: Sim, senhor, que chupa os favores, as
  • recompensas e a autoridade reais. Aliás, semelhantes
  • cortesãos prestam ótimo serviço ao rei, que procede
  • com eles como o macaco, conservando-os por algum
  • tempo no canto da boca, antes de engoli-los. Quando
  • tem necessidade do que acumulastes, basta
  • espremer-vos, para que, esponjas, fiqueis novamente
  • enxutos.
  • ROSENCRANTZ: Não compreendo o que dizeis,
  • senhor.
  • HAMLET: O que muito me alegra. As sutilezas
  • dormem no ouvido dos parvos.
  • ROSENCRANTZ: Príncipe, dizei-nos onde está o corpo
  • e acompanhai-nos à presença do rei.
  • HAMLET: O corpo está com o rei, mas o rei não está
  • com o corpo. O rei é uma coisa...
  • GUILDENSTERN: Uma coisa, príncipe?
  • HAMLET: ...de nada. Levai-me à sua presença.
  • Esconde-te, raposa! Um atrás do outro!

3)    Hamlet Trola Osrico
  • HORÁCIO: Basta. Vede quem vem chegando.
  • (Entra Osrico.)
  • OSRICO: Vossa Alteza é muito bem-vindo à
  • Dinamarca.
  • HAMLET: Humildemente vos agradeço, meu senhor.
  • (À parte, a Horácio.) Conheces esse mosquito?
  • HORÁCIO: (à parte, a Hamlet): Não, caro príncipe.
  • HAMLET: Tanto melhor para a tua salvação, porque é
  • vício conhecê-lo. Possui muitas terras e todas férteis.
  • Se fosse animal o rei dos animais, a manjedoura
  • deste ficaria sempre ao lado da mesa do rei. É um
  • bisbórria, mas, como disse, dono de grandes
  • extensões de lama.
  • OSRICO: Meu doce senhor, se Vossa Alteza dispuser
  • de tempo, farei uma comunicação da parte de Sua
  • Majestade.
  • HAMLET: Recebê-la-ei com a máxima atenção. Usai
  • vosso chapéu de acordo com a sua finalidade; foi
  • feito para a cabeça.
  • OSRICO: Agradeço a Vossa Senhoria; mas faz muito
  • calor.
  • HAMLET: Ao contrário, podeis crer-me; faz muito frio;
  • é vento norte.
  • OSRICO: Realmente, príncipe, está fazendo bastante
  • frio.
  • HAMLET: Conquanto me pareça que o tempo está
  • abafado e quente para a minha compleição.
  • OSRICO: Sim, não há dúvida, algo abafado, de certo
  • modo... Não sei como me exprima. Mas, senhor, Sua
  • Majestade me incumbiu de comunicar-vos que
  • apostou uma grande quantia sobre vossa pessoa. O
  • caso é o seguinte...
  • HAMLET: (concitando a cobrir-se): Peço-vos, não vos
  • esqueçais...
  • OSRICO: Deixai, meu caso senhor; estou à vontade.
  • Mas senhor, Laertes chegou à corte há pouco tempo;
  • um cavalheiro, podeis crer-me, na acepção lata do
  • termo, com excelentes qualidades, boa presença e
  • conversação agradável. De fato, para falar dele com
  • toda a propriedade, é a carta ou almanaque da
  • cortesania, por encontrar-se nele a súmula de todos
  • os dotes que pode um gentil-homem ambicionar.
  • HAMLET: O seu elogio nada perdeu em vossa boca,
  • conquanto eu saiba que se fôssemos fazer um
  • inventário de suas qualidades, padeceria a aritmética
  • da memória sem que na rota em que ele vai se
  • observasse a menor guinada. Para exaltá-lo com toda
  • a sinceridade, considero-o um espírito muito aberto,
  • com dotes tão preciosos e raros, que, para tudo dizer
  • em uma só palavra, igual a ele, só poderá encontrar
  • em seu próprio espelho. Qualquer outra tentativa
  • para retratá-lo redundaria em sua simples sombra.
  • OSRICO: Vossa Alteza fala com convicção.

Quem sabe os Trolls do Serra e ele próprio melhorem na “arte”, melhorem o nível da parolagem insana, de tentar desqualificar os adversários com adjetivos tão baixos e com pouca inteligência.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pequeno balanço do Governo Lula

Primeiro Governo Lula

Devemos lembrar-nos do ano de 2002, para entendermos o primeiro Governo Lula e o exato contexto de mudanças:

Situação Política e Econômica pré Lula:
  1. Janeiro de 1999 uma desastrada maxi-desavalorização do real elevou de 1, 12 para 2,17 em apenas uma semana;
  2. O governo privatista FHC se esgotou em 15 dias após a posse;
  3. Os três anos seguintes foram de extrema letargia, baixo crescimento e todos os “ganhos” das grandes privatizações foram consumidos no imenso déficit das contas públicas;
  4. O maior caos político-administrativo foi o apagão energético, com Ministério de Minas e Energia esvaziado sobreveio o maior vexame da história recente, país não podia crescer por falta de geração e/ou transmissão de energia produzida;
  5. Apesar da melhoria da economia em 2001 o governo politicamente estava derrotado;
  6. Iniciado o ano da sucessão a oposição comandada por Lula era amplamente favorita;
  7. Abril de 2002 o Dólar estava no cambio flutuante no valor de R$ 2,32. O risco país em torno de 800 pontos (dados do BC);
  8. A candidatura governista e da imprensa e dos empresários o Sr José Serra não alça vôo é uma candidatura que ruma ao fracasso;
  9. Em meados de abril/2002 o Sr Luiz Fernando Figueiredo Diretor de Política Monetária do Banco Central modifica a política de prefixação de rendimentos dos fundos de investimentos. Antecipando os vencimentos dos títulos públicos fixados em dólar;

10.  A medida, aparentemente técnica, na verdade revela-se uma tentativa de golpear a oposição, pois com ela todos os índices econômicos são alterados radicalmente;

11.  Em um mês o dólar salta pra três reais, o risco país vai a 1500 pontos. A imprensa pró-FHC e seu candidato espalham boatos que a culpa deste desarranjo é a expectativa de Lula ser Presidente;

12.  Este clima de terror eleitoral foi maligno para o país entre o primeiro e o segundo turno o dólar chegará a 4,04 e o risco pais a 2500 pontos, o IGPM que remunera alugueis e tarifas públicas vai a 30%;

Lula recebe a “herança maldita”

A maior herança do FHC foi um estado falido, sem reservas cambias, expectativa inflacionária crescente, havia previsões de até 30%(IGPM e INPC) em 2003, taxa de juros em 23,5%, cambio de 1 US$ equivalia R$ 4,04, risco país em 2400 pontos, a falência levara ao apagão por incapacidade produtiva. Os principais ministérios apenas cumpriam funções simbólicas, tendo o Estado sido “terceirizado” para agências reguladoras e todas as agências capturadas por aliados do antigo governo. O que sobrou do sucateado estado brasileiro tinha uma gama de terceirização escandalosa.

O país acaba pedindo 25 bilhões de dólar ao FMI em Dezembro de 2002 e aumenta a taxa de juros para 23,5% ao ano. O novo governo tem de lidar com um país saqueado, política de terra arrasada. Todos os planos de mudanças urgentes e estruturais serão adiados, pois se precisa primeiro não deixar o país falir de vez. Todo o esforço de Lula foi convencer aos empresários e investidores estrangeiros que ele não porá fogo ao país, não dará calote, não deixará de cumprir os contratos mesmo àqueles que foram draconianamente elaborados.

Destas breves linhas depreende-se que o novo governo começa administrar uma máquina que tem pouco controle e domínio, a própria inexperiência de Governo Central joga contra Lula. O grande desafio era não cair em 6 meses como maquinavam FHC e seus aliados, este só se mudou de Brasília em fins de junho de 2003, achando que o governo cairia e ele seria chamado para “salvar”o Brasil.

As grandes Expectativas

Lula chega ao poder central depois de 25 anos das grandes greves do ABC que o projetara como grande líder de massas, não forjado em escolas tradicionais de sindicalismo comunista. Ele forja-se como peão que cresce dentro de uma fábrica num regime de exceção cujas liberdades sufocantes é a mola mestra do crescimento econômico, mas na segunda metade dos anos 70 os militares já não davam conta nem do crescimento econômico, bombardeado pela crise do petróleo, muito menos das demandas sociais por liberdade política. A esmagadora vitória do MDB em 74 e 78 prepara um novo ambiente.

As greves de 78/79 lideradas pelo metalúrgico até então desconhecido, são o tiro que faltava para deflagrar o grande movimento pela anistia, liberdade política. Em 80 a ultima tentativa dos militares foi liberar os partidos, com claro objetivo de dividir as oposições, daí surge a grande novidade política do Brasil, o PT.

Sem muitas delongas, este não é objetivo aqui, o PT se forja como a opção vinda da classe trabalhadora mais vitoriosa do país, desde seu inicio identifica a necessidade de chegar ao poder, e nove anos depois chega ao segundo turno da eleição presidencial deixando para trás lideranças expressivas como Brizola e Ulisses. Lula se consolidará como alternativa de poder nas próximas eleições, carregando consigo todo um simbolismo de lutas sócias e transformações.

Talvez lidar com estas grandes expectativas seja a parte mais complexa da montagem do governo inicial, como atender demandas reprimidas num ambiente econômico tão ruim?

2003-2005 Apenas lutar para sobreviver

Desde a montagem da equipe e de algumas medidas houve acertos óbvios e erros clamorosos inoperantes. A equipe econômica não poderia fugir da lógica do mercado, não havia qualquer espaço de manobra e as medidas tomadas foram coerentes com o momento para dar fôlego futuro: 1) Exportações; 2) controle da inflação; 3) aumento do salário mínimo acima da inflação, nada mais podia ser feito de substancial.

Do ponto de vista social o grande acerto foi o lançamento da “Fome Zero” era mais que uma marca, um compromisso para aquele tempo, mas faltaram gestores que entendessem profundamente como montar um programa social tão amplo.

Do ponto de vista político a não vinda do PMDB ao governo causou graves transtornos ao governo mesmo sendo vitorioso na eleição majoritária o governo era ampla minoria no congresso o bloco efetivo que venceu a eleição só tinha 192 deputado e pouco mais 20 senadores.

Os operadores políticos de Lula foram para tática de ganhar apoio no varejo e em bases partidárias que não tinham compromissos algum com o projeto, a troca de favores e futuros financiamentos de campanha virou a moeda de troca, notadamente com o PTB de Roberto Jefferson, que foi o partido escolhido para desembarcar estes “apoios”. A lógica traçada por Zé Dirceu deste tipo frágil de apoio desembocará no Mensalão, o valerioduto criado pelo PSDB mineiro, foi amplamente usado pelos operadores Petistas, a grande diferença é que, no caso mineiro não havia interesse em denunciá-lo. No caso de Brasília tornou-se o escândalo nacional, a mídia amplificou as denuncias, CPIs e toda sorte.

Por um erro tático de FHC e aliados, que achavam que Lula iria sangrar em praça publica e desagregar seu governo, ele não foram à frente com o impeachment. Por esta lógica qualquer candidatura de oposição bateria Lula no primeiro turno, este foi refresco melhor que Lula poderia receber.

2005-2006 A grande virada

Com a saída de Zé Dirceu do Governo, Lula teve as rédeas totais do seu destino, não sei se consciente ou não, mas as escolhas para reconstruir o governo foram decisivas, em particular a de Dilma para Casa Civil.

Fator Dilma

Ninguém prestou atenção quando Lula nomeou Dilma para Minas e Energia, o único fato relevante era que ela fora guerrilheira, presa política, torturada e que depois no RS se tornara economista e tinha sido uma importante gestora do Governo Olívio Dutra.

No Ministério da Minas e Energia revelar-se uma grande gestora, do país sem energia, com déficit absurdo que fazia com quem não se pudesse ousar em qualquer crescimento econômico, pois a energia estava sob racionamento, ela consegue reverter o quadro de forma rápida e eficaz, sem prejudicar a população, pois esta não foi chamada para pagar a conta, diferentemente dos impostos anti-apagão de FHC.

A ida dela à Casa Civil muda completamente a lógica de funcionamento do Governo, sua dinâmica, perspicácia, dureza começa a dar outra cara administrativamente ao governo. Na pratica Dilma converte-se em Ministra chefe, liberando Lula das tarefas cotidianas e sendo a figura publica necessária ao seu governo.

Segundo Governo Lula e grande crise de 2008

2007-2008 PAC e Crescimento sustentado



Novo Governo Lula é totalmente diferente do primeiro, se livra de vez de todas as heranças malditas e passa a pensar o país mais em longo prazo, o maior acerto foi o PAC, que é um conjunto de iniciativas articuladas por todos os entes federativos visando alavancar o crescimento sustentado.

Por iniciativa da Casa Civil foram listadas todas as obras, projetos, combinando orçamento da União evitando desperdício e usando uma lógica de combate ao desemprego, articulação de setores da economia e preocupação social. Em particular os recursos são destinados para saneamento, infraestrutura(estradas, portos, aeroportos),habitação, hospitais. Foram dois anos de intenso crescimento econômico, geração de emprego e renda.

A queda do muro de Wall Street – Setembro de 2008

A lógica de produzir fortunas a qualquer custo, em particular às alavancagens bancárias, foram criando ondas especulativas em a “riqueza virtual” superava em até 10 vezes a riqueza real. A necessidade crescente de guerras e conflitos para revigorar a produção de capital a emissão de moedas e o endividamento do USA, combinado com a inversão de fluxo de capital dos países periféricos para o centro criou o caldo de cultura para a futura crise.

A redistribuição da produção, privilegiando China e Índia, com a visão de barateamento ao extremo dos custos, leva conseqüentemente à desindustrialização dos grandes centros, começa um ciclo de sobrevivência das famílias através de empréstimos bancários cada vez mais “generosos”, uma bolha de consumo nunca vista na história ameaça todo o sistema. Grandes corporações americanas passam a ter mais “lucros” com atividades interbancárias de empréstimos do que com o produto vendido, caso exemplar da GM, Ford.

Os bancos como bombeadores do sistema com seus imensos créditos sem lastro vão à bancarrota de forma inacreditável, no espaço de 45 dias as maiores instituições bancárias do mundo falem sincronizadamente.

Socorro neoliberal pelo Velho ESTADO

Seria cômico se não fosse trágico, mas o Estado vilipendiado pelo neoliberalismo virou o socorro às estas almas carentes de fé na sua ideologia, todas as práticas e discursos foram esquecidos e como na música do Chico a fila para Geni salvar tinham todos os personagens.

Em poucos dias o USA elegeu Obama, quase 30% da economia americana foi formalmente estatizada, a dívida líquida e o déficit público as jóias da coroa neoliberal foram enfiadas no saco, a prova cabal de que a ideologia e a política não resistem a dinâmica de crise econômica produzida pelo capital.

O Brasil e o neoliberalismo

Como falamos acima nenhum projeto político ficou imune a lógica Neoliberal, o do PT de Lula se adaptou a este mundo, mas por uma condição particular de extrema miséria e às doses cavalares do receituário neoliberal aplicados aqui, já se começava a gestar iniciativas tímidas de tentativas de fazer algo diferente à política dominante.

Dois fatores, para mim foram fundamentais:

1)       Diminuição da dependência americana, busca de novos parceiros comerciais;

2)      Rompimento com a política de privatizações, que preservou o Banco do Brasil a CEF e a Petrobras;

Mesmo sob críticas ferozes Lula buscou desde 2003 remar lentamente contra a maré, fez um excelente política externa coordenada por Celso Amorim, aproximando da China, da África e uma aliança estratégica com a Europa, em particular com a França.

Impulsionou o G20 grupo que passou a ter voz ativa na OMC e fazer frente às demandas  dos países centrais de maior exploração dos recursos destas nações e imposição de seus interesses de privatização e invasão de seus produtos.

A segunda política, a de parar as privatizações salvou um pouco do patrimônio público e deu margem de manobra para impulsionar uma política de desenvolvimento incentivado pelo Estado.

A Petrobrás que quase fora privatizada por US$ 3 bilhões em 1999, em janeiro 2003 tinha seu patrimônio em US$ 20 Bilhões, em janeiro de 2010 ela vale US$ 200 Bilhões e movimenta cerca de 10% do PIB, sendo hoje a quarta maior petroleira do mundo. Os ganhos do Pré-Sal podem definitivamente tirar o Brasil da miséria endêmica.

O Brasil e a grande crise

Aos primeiros sinais da crise Lula, falou que ela seria uma “marolinha”, quase foi massacrado pela mídia e seus acólitos no parlamento. Porém ele jogou todo seu patrimônio político no combate a crise, enfrentou-a de peito aberto, com o significativo pronunciamento no natal de 2008.

Lula jogou todas as suas forças e recursos do Estado para que o Brasil fosse pouco atingido pelos efeitos da crise, importante lembrar os coveiros (Miriam Leitão, Sardenberg, PSDB e DEM) que torciam entusiasmados com a possibilidade de derrotar o governo, todo dia eles comemoravam um número ruim que saiam, em abril chegaram a dizer que o desemprego iria explodir em 2009, que a geração de novos empregos seriam nulas. No parlamento a ‘“marolinha” era motivo de chacota, os programas eleitorais do DEM/PSDB/PPS repetiam as piadas sobre a crise.

Logo em junho a situação se reverteu, o pior passara, o crescimento seria ZERO, mas o mundo todo em média seria de -4%, ou seja, estávamos no Lucro. A previsão de geração de emprego foi de 1 milhão.

Lula passou a ser visto no mundo como o “CARA” nas palavras de Obama, sua rapidez de agir, firmeza e principalmente a confiança de que só nós podíamos vencer a crise convenceu a população de que era possível.

A mídia e os resultados de 2009

Olhando a tabela acima sobre os números da economia mundial e comparando com os do Brasil abaixo:

Dívida Publica x PIB

Em Dez/2008 = 37,3 % do

Em Dez/2009 = 42,96%

Supervit da Contas Públicas X PIB

Em 1999 = 3,26%

Em 2000 = 3,46%

Em 2001 = 3,64%

Em 2002 = 3,89%

Em 2003 = 4,32%

Em 2005 = 4,85%

Em 2008 = 3,54%

Em 2009 = 2,06

Mesmo com toda crise nossos números são extremamente favoráveis, mas lógico que donas Miriam, Sardenberg da vida e PSDB/DEM acham que estamos no casos pois geramos só 995 mil empregos(5 mil a menos do que previsto), que nossa dívida publica aumento e o superávit caiu.

Como há muitos incautos é bom comparar com o mundo e ver o porquê Lula foi agraciado em Davos e nossos brilhantes “economistas” (não seria apenas torcedores?) não entendem nada de nada. Ademais a oposição entra em pânico ante os números das pesquisas.

Vendo isto hoje, vejo que precisamos urgente de um filme “Adeus, Reagan”, duro é saber quem faria o papel da velhinha Neoliberal, sugestões?

2010 auspicioso crescimento

Chegamos a Setembro de 2010 com uma perspectiva de crescimento vigoroso de 7,3%, todos os indicadores econômicos em alta, vejamos a herança que Lula deixará para seu sucessor:

1)    14 milhões de novos empregos, taxa de desemprego mais baixa da história;

2)    De Janeiro de 2003 a Junho de 2010 43% a mais de empregos formais;

3)    Classe média aumentos em 24 milhões de pessoas;

4)    32 milhões de pessoas saíram da linha da miséria;

5)    Classe C tem mais poder de consumo de A+B juntas. Classe D emergindo e entrando firme no mercado;

6)    Salário mínimo foi de US $ 65 para 295 e quebrou a versão de que se aumentasse salário previdência e empresas iriam a falência;

7)    Brasil é 3º país  no ranqking de investimentos mundiais;

8)    Petrobras fará a maior capitalização da América Latina por uma empresa, algo em torno de 25 Bilhões de Dólares, Pré-Sal vira realidade;

9)    Contas públicas em ordem;

10)  Diminuição da carga de 36,1 para 33,58% do PIB em plena crise;

11)  8ª Economia mundial e perspectiva de ser a 5ª em 5 anos;

12)  Copa do Mundo em 2014 e Olimpíadas em 2016, abrindo ampla perspectiva de investimentos, obras e empregos;

Muito há que se fazer, dívida social é imensa, falta mais reforma agrária, falta resolver o problema do câmbio, combater a desindustrialização, diminuir impostos, política de inclusão social. Melhorar educação e saúde pública. Mas sem dúvida muito foi feito apesar de todas as dúvidas de 2002.